domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mensalões diferentes

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Ao contrário do que ocorre na AP 470, é fácil apontar desvio de dinheiro público no mensalão PSDB-MG
Se você é daqueles que acredita que o mensalão PSDB-MG é igual ao esquema financeiro da AP 470 pode despedir-se de mais uma ilusão.
A leitura das alegações finais de Rodrigo Janot, procurador geral da República sobre o mensalão PSDB-MG mostra uma verdade difícil de negar. Tudo aquilo que se disse – e não se provou – sobre o esquema de Valério-Delúbio pode ser dito e provado no mensalão PSDB-MG.
A polêmica principal sobre o mensalão dos petistas diz respeito ao desvio de recursos públicos. O procurador geral Antônio Carlos Fernando, seu sucessor Roberto Gurgel e o relator Joaquim Barbosa sustentam, desde o início, que o esquema Valubio baseou-se no desvio de R$ 73,8 milhões de recursos públicos. Dizia-se, no começo, que esse dinheiro fora desviado do Banco do Brasil. Uma apuração mais acurada mostrou que o dinheiro pertencia ao Fundo de Incentivo Visanet, destinado a divulgar o cartão Visa, que é uma empresa privada. Hoje não há a mais leve dúvida a respeito.
Embora uma única testemunha tivesse dito que – qualquer que fosse sua natureza — os recursos destinados a DNA eram desviados para campanhas petistas, a contabilidade mostra que o desvio – se houve – está longe de ter sido demonstrado.
As contas batem, conforme várias auditorias.
E tanto é assim que nesta semana, teremos uma novidade neste item. Enquanto os réus da AP 470 já estão cumprindo penas longas, em regime fechado, seus advogados começam a distribuir uma notificação judicial aos veículos que receberam as verbas da DNA. Estamos falando da TV Globo, Editora Abril, Estadão, Folha, Editora Três.
Convencidos de que irão colher um dado que ajudará a demonstrar a inocência dos réus, os advogados querem que as empresas confirmem – ou desmintam – a informação de que os recursos da DNA chegaram a seus cofres. Estes dados, a rigor, encontram-se nos documentos da AP 470. Mas ficaram ali, congelados nos arquivos, sem que fosse possível examinar seu significado e extrair todas implicações.
A consulta às empresas, que será feita agora, deveria ter ocorrido em 2005 ou 2006, na época da denúncia. Era o tempo certo para uma checagem tão importante, decisiva, até.
Mas não interessava questionar uma teoria que agradava tantas pessoas e tantos interesses, vamos combinar.
A leitura das alegações finais de Janot sobre o mensalão do PSDB descreve fatos muito mais graves. Ele fala de desvio de milhões de reais de empresas estatais do governo de Minas Gerais. Fala da Copasa, Codemig, Comig. Ao contrário do que acontecia com a Visanet, que se definia como “empresa de capital privado”, em seus estatutos e também num questionário enviado a CPMI dos Correios, aqui estamos falando de empresas públicas, controladas pelo governo do Estado, com funcionários concursados e tudo mais.
A Copasa é a Companhia de Saneamento do Estado. A Codemig dedica-se ao desenvolvimento econômico e obras de infraestrutura. A Comig é a estatal de mineração.
Não há comparação possível com a Visanet, criada pela multinacional dos cartões Visa, uma das maiores empresas do mundo.
Com notas e depoimentos, Janot descreve cenas tão didáticas que poderiam estar num filme. O dinheiro sai das estatais, chega às agências e, em vez de ser gasto em publicidade, é despachado para os cofres da campanha estadual do PSDB em 1998. Porções mínimas das verbas destinadas a publicidade chegaram a seu destino. A maior parte ficou no meio do caminho, diz ele.
Muitas pessoas diziam, quando Roberto Jefferson fez a denúncia, que o PT apenas repetia o que o PSDB fizera antes. O próprio Lula disse em Paris que seu partido nada fazia de diferente daquilo que ocorria “sistematicamente” na política brasileira.
Parecia uma forma do PT tentar proteger-se atrás dos erros do adversário, o que levou a acusação de que o partido queria justificar seus erros através dos erros dos outros. Talvez seja mais correto afirmar o contrário. A construção de uma visão distorcida na AP 470 ajudou a encobrir erros e desvios — mais graves — da AP 536-MG.
Embora o próprio Janot se permita, nas alegações finais, lembrar as semelhanças – e algumas distinções – entre os dois mensalões, as diferenças são muito maiores do que se quer acreditar. O Banco Rural é o mesmo, um personagem central – Valério – também. Até as secretarias eram as mesmas.
Mudava a natureza da mercadoria.
A existência do mensalão PSDB-MG chegou ao STF Supremo em 2003 mas ficou em segredo até a denúncia de Roberto Jefferson contra o PT. Foi então que se descobriu que Marcos Valério, o parceiro que se aproximou de Delúbio – o Carequinha, nas palavras de Jefferson — nos meses finais da campanha de 2002, havia sido formado e treinado nas campanhas tucanas desde 1998.
Veio daí a teoria de que o segundo mensalão era uma cópia do primeiro. As diferenças no ponto essencial – dinheiro público – permitem pensar em outra hipótese. A teoria do segundo mensalão serviu para justificar o primeiro.
É como se, já tendo conhecimento anterior do mensalão PSDB-MG, a acusação tenha feito o possível para vestir o esquema de Delúbio-Valério com as mesmas roupagens e a mesma gravidade, fazendo uma denúncia igual para casos substancialmente diferentes. Isso explica porque se forçou a barra para dizer que as verbas saiam do Banco do Brasil e, quando se verificou que sua origem era a Visanet, para dizer, num exercício espantoso, que os recursos seguiam públicos embora fossem propriedade de uma empresa privada.
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Chama o Batman!



Sei não, melhor chamar o Batman de novo.

No mensalão, todos os réus, com ou sem foro privilegiado, foram julgados no STF. Já o trensalão... 

Bom, é verdade que o trensalão é um pequeno desvio de pouco menos de R$ 1 bilhão dos cofres públicos.

Verdade também que não foram os "alibabás e os 40 ladrões".

Ainda não menos verdade, o caso de corrupção é bem diferente, pois não foi feito para "comprar votos no congresso" e muito menos para financiar o caixa 2 das vintenárias campanhas do PSDB.

E dizem que a justiça é cega!

E a mídia, pelo visto, caolha!!!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Mais um email para Mainardi

Com a divulgação do investimento estrangeiro direto (IED) em 2013, e sua estimativa para 2014, já é possível projetar o volume de dinheiro investido por países estrangeiros em empresas brasileiras durante a primeira gestão de Dilma Rousseff.
O investimento estrangeiro direto é um dado importante porque não inclui o capital especulativo. Na sua estimativa, entram só investimentos em novas fábricas, aumento de capital em empresas nacionais, aquisição de firmas brasileiras, enfim, investimentos produtivos de longo prazo.
O Banco Central estima que os IED em 2014 totalizarão US$ 63 bilhões em 2014. O número do “mercado” é mais pessimista: US$ 57,5 bilhões.
Com isso, o volume de investimento estrangeiro no Brasil nos últimos 4 anos deverá terminar, usando a estimativa mais pessimista para 2014, em US$ 253,6 bilhões. Esse número corresponderá a um aumento de 254% sobre o IED nos quatro primeiros anos do governo Lula, e de 62% sobre os quatro anos da gestão seguinte

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Abaixo, um gráfico trazendo um período mais antigo. Repare que o mercado havia estimado o IED de 2011 em US$ 50,5 bilhões, e este acabou sendo o maior da nossa história: US$ 66,7 bilhões. Pode ser que o mesmo aconteça em 2014.

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De qualquer forma, os números desmentem uma série de análises pessimistas sobre o Brasil, muitas delas feitas com objetivo de reduzir o preço das ações de nossas grandes empresas públicas. Na hora do “vamo-ver”, o mundo continua acreditando no país. Falta só a o Brasil fazer o mesmo.
Por Miguel do Rosário - http://www.ocafezinho.com

PIG - Partido da Imprensa Golpista

As elites brasileiras sempre acusaram os partidos políticos mais à esquerda, bem como os seus simpatizantes, de utilizarem o termo PIG. Para elas não passa de uma simples defesa.


Maria Judith Brito já não é mais presidente da ANJ. 

A declaração foi dada em março de 2010. Na essência, nada mudou. Esse, infelizmente, é o papel da grande mídia brasileira. Deve sim investigar, sempre. Mas o papel investigativo não é e não pode ser confundido com oposição.

O papel da imprensa deveria ser pautado sempre, e apenas, pela isenção política e neutralidade ideológica.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A missão de Thomas Traumann

Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo.

Thomas Traumann foi uma excelente aquisição para a Secom.

Trabalhamos juntos na Época em meados dos anos 2 000. Thomas é um jornalista competente e um homem de caráter.

Fazia, na revista, uma das seções mais lidas: Filtro. Como o nome diz, era uma filtragem das notícias mais importantes da política. (O espírito dela está presente em nosso Essencial.)

Eu era diretor editorial, e minha divisa era: “um olho na revista e outro no site”. Thomas, com seu Filtro, era a representação disso .

Na edição semanal, você tinha ali o principal do mundo político no papel. Diariamente, pela internet, você se informava por Thomas.

O mundo político acompanhava-o. Lembro que uma vez Serra, então forte candidato à presidência, nos contou que uma de suas leituras obrigatórias era o Filtro de Thomas.

Ele chega à Secom sob uma cínica desconfiança da mídia.

Absurdamente privilegiada há anos, décadas, por sucessivos governos com coisas como publicidade em doses abjetas e financiamentos a juros maternos em bancos públicos, a mídia teme que a Secom coloque algum dinheiro em blogs que representam, hoje, a garantia de que vozes e visões alternativas chegarão à sociedade.

As companhias de jornalismo defendem, essencialmente, seus próprios interesses – e os do grupo a que pertencem, o chamado 1%.

Antes da internet, elas comandavam – manipulavam – a opinião pública. Veja o que elas fizeram com Getúlio e, depois, Jango. Com Lula, no Mensalão, o mesmo comportamento padrão se repetiu – a tentativa de minar governantes populares. A diferença é que a estratégia não funcionou. A intenção era a mesma.

Foi nesse quadro que a internet surgiu e floresceu como uma vital contrapartida às empresas de mídia.

Colunistas que reproduzem o pensamento patronal estão criticando a nomeação de Thomas.

Reinaldo Azevedo – que tem uma velha obsessão por mim – é um deles.

É até engraçado. Quando dirigiu uma revista a favor do PSDB, Azevedo recebeu mensalões do governo paulista na forma de anúncios. Nem isso foi suficiente para salvar a publicação.

A revista para a qual ele trabalha – a Veja – é abençoada com a compra de lotes consideráveis pelo governo de Alckmin.

Os exemplares vão terminar em escolas estaduais cujos alunos estão na internet. São conhecidos os relatos de gente que vê as revistas indo para o lixo exatamente como chegam – na embalagem plástica.

Alguém pode imaginar jovens lendo revistas de papel, com a internet à sua disposição? Mas o governo Alckmin gasta milhões em Vejas que não serão lidas por estudantes que sequer a conhecem.

Thomas Traumann chega com uma missão relevante: dar mais nexo ao investimento publicitário oficial.Faz sentido a Globo – com audiência em queda aguda por conta também da internet – continuar a receber tanto dinheiro em anúncios governamentais?

A Globo é uma bizarrice. Graças ao BV (Bonificação por Volume), uma espécie de propina para as agências, a Globo tem 60% da receita publicitária brasileira tendo 20% da audiência.

Todo este dinheiro – o governo colocou 6 bilhões de reais nos últimos dez anos – alimenta uma máquina que defende os interesses dos Marinhos, dos Marinhos e ainda dos Marinhos.

E defende bem: os herdeiros de Roberto Marinho têm, juntos, a maior fortuna do Brasil, como mostra a lista de bilionários da Forbes. São cerca de 55 bilhões de dólares, somados.

Durante muito tempo, só o governo pagava tabela cheia de publicidade quando os anunciantes privados tinham descontos que podiam passar de 50%. Era uma torração infernal de dinheiro público.

Dívidas com bancos oficiais eram pagos, frequentemente, com anúncios. Nos anos 1980, o Jornal do Brasil regurgitava de anúncios do governo

.Investir no jornalismo digital é fundamental – sobretudo para a sociedade. Jango não teria sido derrubado tão fácil se na época houvesse a internet para mostrar o que os jornais não mostravam.

Teríamos evitado, simplesmente, a ditadura militar – a qual, além de matar brasileiros, construiu um país campeão mundial de desigualdade.

Os militares – apoiados pela mídia – fizeram um governo de ricos, por ricos e para ricos.

Thomas, na Secom, é a esperança de que cheguem ao fim as mamatas das empresas de mídia no que diz respeito às verbas oficiais.

Se Thomas se sair bem, mais que o governo Dilma, quem ganhará mesmo é a sociedade brasileira.

As manchetes da grande mídia.

O poder das palavras e a capacidade da grande mídia na manipulação de suas manchetes. Junte-se a isso a preguiça intelectual de boa parte dos brasileiros e instala-se o pessimismo.


A “penúltima verdade” da Folha

1 de fevereiro de 2014 | 07:40 Autor: Miguel do Rosário
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Uma das sinopses mais comuns nos clássicos de ficção científica diz que a realidade tal qual a conhecemos não é a verdadeira realidade. Philip Dick tem algumas obras onde conta essa mesma história de maneiras diferentes. Em The Penultimate Truth (A penúltima verdade), por exemplo, a humanidade vive nos subterrâneos, trabalhando para uma guerra que já terminou há anos. Um grupo de ricaços controla as informações passadas à população, para que ela continue trabalhando em regime de semi-escravidão, vivendo em cidades construídas embaixo da terra. Inventam-se crises, batalhas perdidas, disseminam-se ameaças, esperanças, sempre mentirosas, tudo para que um grupo de conspiradores prossiga desfrutando de uma vidinha milionária na superfície do planeta.
Na literatura e no cinema anglo-americanos, há dezenas, quiçá centenas, de obras que denunciam os arbítrios e os riscos de uma mídia corporativa excessivamente poderosa. Em “O Amanhã nunca morre”, um filme da franquia 007, um poderoso magnata da imprensa mundial, Elliot carver, almeja dominar o mundo através da manipulação midiática: inventa uma guerras aqui, uma crise acolá, e vai virando dono de tudo.
Às vezes eu fico a imaginar que nossa mídia deveria ser mais explorada por nossos ficcionistas do livro e da tela. Ontem mesmo, esbarrei numa reportagem  (a da imagem acima) que me deu ideia para um romance. A história poderia ser a seguinte: meia dúzia de órgãos de mídia, organizados em cartel, tentam vender à população que seu país vive uma terrível crise econômica. Mas é mentira, não há crise nenhuma. Os conspiradores manipulam as notícias para comprar ações baratas e lucrar com o aumento dos juros.
O jornal informa que o Bradesco divulgou seu balanço de 2013. Tudo cresceu: carteira de crédito, faturamento e lucro líquido. Quer dizer, uma coisa caiu: a inadimplência (favor mandar emails para Diogo Mainardi).
Entretanto, os editores dão o seguinte título à matéria: “Bradesco diminui expansão de crédito”, o que poderia ser traduzido, com um pouquinho de humor, para “crédito aumentou, mas caiu”.
A base para a matéria sequer é a comparação entre a expansão de 2013 sobre o ano anterior com a de 2012. Não. O título busca sentido no fato do Bradesco ter “estimado”, no início do ano, expandir o crédito em 13% mas expandiu “apenas” 11%.
O Santander, outro grande banco que divulgou esta semana seu balanço de 2013, ampliou sua carteira de crédito em 7,5%.
Queda na inadimplência, aumento nos lucros, nada disso tem imporância para os editores da Folha. O que vale é investir no baixo astral e na manipulação das notícias, para que os leitores, como no livro de Philip Dick, continuem trabalhando silenciosamente nos subterrâneos, enquanto os donos da mídia e seus sócios se tornam a cada dia mais e mais ricos.
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http://tijolaco.com.br/