terça-feira, 22 de março de 2011

Chile e Argentina


Estivemos no Chile em 2008 e resolvemos voltar agora.  A idéia inicial era descer até a região mais fria, Puerto Varas e Puerto Mont. Fomos alertados para o fato de que nessa época do ano não é tão bonito por lá devido à temperatura mais elevada, inviabilizando o que a região tem de mais interessante que é a paisagem nevada.  E foi assim que incluímos Mendoza em nosso roteiro.
O desejo de atravessar os Andes de carro já era antigo.  Aumentou na primeira ida ao Chile quando pudemos ver de cima a estrada que liga os dois países. 
Descemos em Santiago no início da tarde e do aeroporto já pegamos a estrada que nos levaria a Mendoza.  Alugamos um carro pequeno, pois não há necessidade de um 4x4 como algumas pessoas chegaram a sugerir.  A estrada é ótima do começo ao fim.  Cabe apenas lembrar que para ingressar na Argentina é necessário uma licença especial e um seguro que é feito pela própria locadora, com custo de US$ 190 e válido por 30 dias.  Sem isso não se cruza a fronteira. A solicitação deve ser feita com antecedência mínima de 10 dias.
No caminho, paramos em Los Andes, a pouco menos de 100 km de Santiago.  Uma cidade dormitório que não oferece muita coisa para o turista.  Almoçamos num lugar simples, mas com boa comida. Já à noite, tivemos dificuldade para encontrar um restaurante. Dormimos ali e saímos no começo da manhã, pois queríamos fazer o percurso todo durante o dia.
É indescritível a beleza dos Andes.  A imensidão, o silêncio, as cores.  Uma paisagem incrivelmente colorida, mesmo em seus tons predominantemente monocromáticos.  E apesar do verão, ainda há muita neve pra ser vista nas partes mais elevadas da cordilheira.

A partir de Santiago, são 200 km até a fronteira com Argentina.  E a passagem de carro pela aduana é meio complicada.  Processo lento. Documentação pessoal, documentação do carro. Vistoria de bagagem.  Mesmo com poucos carros à nossa frente, perdemos quase uma hora. E se você tiver qualquer tipo de alimento in natura no carro, coma antes da fronteira. 
Saindo da aduana, logo à frente, está o Parque Nacional do Aconcágua.  Parada obrigatória.  São 10 pesos argentinos para entrar, com direito a estacionamento e uma trilha de 2 km para se avistar a imponência do “Sentinela de Pedra”.






A menos de 10 km abaixo do Parque está a Ponte dos Incas.  Outra parada obrigatória.  Há bares, lojas e barracas de artesanatos e uma obra de arte criada pela natureza.  A ponte era utilizada pelos incas quando de suas incursões em terras argentinas.

É interessante como a paisagem muda após a passagem do Túnel Cristo Redentor que separa os dois países.  A cordilheira é a mesma.  Mas as cores, formas e tipo de solo são diferentes.  No Chile a predominância é pedra.  Já na Argentina, há mais terra.  A estrada também muda. Vai margeando um rio, praticamente sem serra. E já se vê mais verde também.  E em meio a um deserto, de repente, surge à nossa frente uma imensa represa de cor azul, o Dique Potrerillos.  A fonte que abastece de água doce toda a região de Mendoza.






 
Deixando a cordilheira já começamos a avistar as videiras. Mendoza é uma videira!  Para todos os lados que se olha, uva. São centenas de vinícolas espalhadas pela cidade.


E o que não é uva é área verde. Creio que não há outra cidade com maior concentração de verde por metro quadrado.  E a região é um deserto. A cidade foi destruída por um terremoto por volta de 1860.  Na reconstrução, o planejamento se baseou na prática dos incas e canais de irrigação foram abertos em todas as ruas da cidade. A água que circula por esses canais irriga as centenárias árvores, que em algumas calçadas foram plantadas em duas fileiras, distantes 2ms uma das outras. Um exemplo do que a mão do homem é capaz de fazer!


Mendoza é para quem gosta de vinho. De bons vinhos, diga-se.  Como disse, não centenas de vinícolas.  Para todos os gostos e orçamentos.  Para visitar as maiores é preciso agendar antes de viajar.  Basta uma rápida pesquisa na Internet.  Para as pequenas o agendamento é dispensável.  E elas são muitas. Algumas orgânicas. Há também pequenas propriedades que produzem compotas, geléias, azeite, que merecem uma visita.
Entre as grandes, a Família Rutini - hoje Viña San Felipe, Bodega La Rural - mantém o Museu do Vinho, onde é possível conhecer equipamentos e utensílios utilizados desde o século 19.  A visita é guiada e nos permite conhecer as etapas de produção, da videira à garrafa, terminando com uma rápida degustação.  Ah, fora as pequenas, é a única que não cobra para visitar.  Basta agendar previamente.



Outra que não podemos deixar de sugerir é a Melipal.  Além dos bons vinhos que oferece, a visita inclui um delicioso almoço que pode ser servido numa varanda de onde se avista os topos nevados da cordilheira. Imperdível!





Para quem gosta de beber um pouquinho mais, é interessante contratar um transporte para visitar as vinícolas.  Há vários prestadores desse serviço por lá.
Embora Mendoza ofereça várias opções de hotéis na região central, optamos por uma pequena pousada localizada em Chacras de Coria, distante 15 km da cidade. Existem também algumas vinícolas que oferecem hospedagem.
A cidade vale a pena conhecer, claro.  Mas o charme maior, certamente, está no entorno dela. 
Não deixe de saborear um sorvete de doce de leite.  Perfeito.  Tanto quanto o capuccino. Não deixe também de ir ao Azafrán, um restaurante delicioso na região central. Importante fazer reserva de horário.


Retornamos a Santiago na quinta-feira de onde regressamos no domingo pela manhã.  Para hospedagem, procuramos o mesmo hotel da vez passada, mas não havia vaga.  O próprio hotel nos ofereceu um apartamento há menos de 100ms, na mesma rua.  Ficamos meio receosos.  Mas acabamos fechando.  E foi uma ótima surpresa.  Suíte com banheira, copa e cozinha equipada, duas TVs, Internet, ferro e tábua de passar, arrumadeira. O café da manhã é servido no próprio hotel. Diária: US 95, contra US 120 do hotel.  E ainda pode acomodar mais uma pessoa ou um casal até, em ótimo sofá na sala.  E o melhor de tudo: fica no bairro de Providencia, seguramente um dos melhores lugares de Santiago, com ótimos restaurantes, bares, cafés e por onde se pode caminhar a pé tranquilamente. E com metrô e várias linhas de ônibus na esquina.  Para passeios noturnos, o uso de táxi é mais aconselhável e com tarifas bem acessíveis.
Alugar um carro em Santiago pode ser interessante para melhor mobilidade, mas é dispensável, a não ser que a intenção seja também conhecer algumas cidades próximas como Viña Del Mar, Valparaiso...  Para visitar vinícolas, há vários serviços de transporte.  Algumas delas mantêm lojas próprias na cidade e podem ser visitadas até mesmo de metrô.  Nós gostamos muito da El Mundo Del Vino, uma loja multimarca com preço e atendimento excelentes.
Se além das delícias do vinho, você também gosta de bons restaurantes, o bairro da Providencia é ótimo.  Recomendamos o Tiramisu (não exatamente na Providencia, mas bem perto), um lugar movimentado, bonito, com um cardápio completo, incluindo deliciosas pizzas.  Na Av. Pedro de Valdivia tem o Del Cocinero, uma pequena casa com ótimos pratos.  Tem também o Café do Hotel Orly para pequenas refeições.



Mais abaixo, no bairro da Bela Vista, as opções são muitas também. O Azul Profundo, para quem aprecia peixe é imperdível.  Há também, na mesma rua, o Como Água para Chocolate.  Aliás, a Bela Vista é outro local que você não pode deixar de ir. Próximo do bairro, de onde se vai até a pé, tem o Mercado. Lá se saboreia peixes e frutos do mar da melhor qualidade também, e com preços variáveis. E se você gosta de caranguejo, não deixe de provar o Centoya. Imperdível!




Uma dica importante: se tomar o metrô próximo ao Mercado fique atento. É uma região muito apreciada por batedores de carteira. Os próprios chilenos nos alertam para isso no Mercado. A tática é a de sempre, com empurrões estranhos na entrada do vagão e quando você se dá conta, já foi.
Ah, quase me esqueço da Patricia Ready, no bairro Las Condes. Uma galeria de arte com obras belíssimas e com um bistrô que oferece ótimos pratos. Só lamentamos não servir vinho (nada alcoólico). Mesmo assim, vale a pena.


Finalmente, outro passeio bem interessante é visitar o Centro Artesenal Los Dominicos, no extremo da cidade, quase aos pés da cordilheira. Última estação do metrô. Tem de tudo.  Coisas bonitas, coisas feias. Desde bugigangas até obra de arte a gente vê por lá.





Santiago

Mendoza




Uma pousada excelente, localizada há 15 km de Mendoza. Pequena, com apenas cinco aposentos, administrada pelo próprio dono, Jose Luis, uma graça de pessoa. Uma chácara linda, com oliveiras, uvas, piscina e uma proposta de agregar pessoas. O café da manhã é servido numa mesa comunitária. Em uma das noites, quando retornamos para a pousada, fomos convidados pelo Jose Luis a nos juntarmos a um grupo que degustava vinhos e comidinhas na varanda de sua casa, ao lado da pousada. Brasileiros, ingleses, canadenses e americanos à mesa. Muitas histórias, em especial do casal inglês que se mudou para Mendoza e hoje é dono de uma pequena vinícola. É esse o espírito do lugar.

Distâncias
Santiago - Mendoza 365 km
Mendoza - Aconcágua 199 km
Aconcágua - Santiago 166 km
Santiago - Túnel 154