sábado, 8 de janeiro de 2011

Poesia

Não sou poeta.  Eventualmente escrevo alguns versos.  Faço uso da pouca inspiração como uma forma de conviver com as minhas emoções.  Quase tudo que escrevi e escrevo, advém das grandes paixões.

Poesia não se explica.  Quem a escreve sabe de seus motivos.  Quem a lê, se fonte não for de tal inspiração, pode e deve admirá-la.  Se não pelo conteúdo, ainda sobram beleza e estética.

Encontros matinais

Há dias
Tardes e noites se repetem
Monótonas, paraíso sem maçãs

Há dias
Tardes e noites
Me remetem
Ansioso, ao encontro das manhãs

Para Anna Christina, a quem eu via apenas pela manhã.



Desce, irmão!

Quem nasceu e viveu no interior, especialmente os mais antigos, conhece bem aquelas crenças populares, do tipo: não imite um gago porque se bater um vento forte você também ficará; não envesgue os olhos, se não, idem;  não tome banho de barriga cheia;  não brinque com espírito e;  por aí vai.  E sobre espírito, tem a famosa frase “Desce, irmão!”.

Morávamos numa chácara no interior de São Paulo, onde tínhamos uma granja.  De um lado os galpões alinhados paralelamente, no centro a nossa casa e do outro lado, à frente dos galpões, uma construção que servia de depósito para ração e ovos. 

Um dos meus irmãos e eu tínhamos o hábito de brincar com uma pequena bola de meia no terreiro à frente do depósito.  Bola de meia, como o nome já diz, é feita com retalhos de tecido embolados e revestidos por um pé de meia.  Por isso mesmo, pesa bem pouco, principalmente aquela nossa, de tamanho bem reduzido.

Lá estávamos nós a brincar.  Fazíamos embaixadas, chutávamos um para o outro e também, de vez em quando, jogávamos a bola sobre o telhado e enquanto esperávamos pelo seu retorno gritávamos: desce, irmão!  Obviamente, ela sempre descia.

Mas naquela tarde, algo diferente aconteceu.  Alguém havia colocado uma barra de cano de metal, com 5 ou 6 metros de comprimento.  Pesava um bocado.  Ela estava em pé e apoiada sobre a primeira fileira de telhas. E eu, todo faceiro, de cima dos meus 7 anos de idade, joguei a bola sobre o telhado e me pus bem próximo a esperar pela sua volta.

Desce, irmão, gritei!  E desceu.  Desceu, bateu no cano e o cano também desceu...  Bem no meio da minha cabeça!  Tudo muito rápido!

Assustado e com dor, demorei alguns segundos para perceber o que havia ocorrido.  Dá para imaginar que uma bolinha de meia muito leve, um pouco maior do que uma laranja, derrubaria uma barra de cano muito pesada?  Terá sido a mão de um “irmão” já aborrecido com a brincadeira?  (rsrs)

O fato é que de lá pra cá, só pronuncio “Desce, irmão” quando um dos meus está numa escada, numa cadeira ou coisa parecida.