segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A vingança do touro




E por falar em vaca...

O fato aconteceu em 21.05.2010, mas só hoje tomei conhecimento.  Confesso que fiquei contente pelo touro.  Felizmente (ou não), o toureiro sobreviveu e já está de volta à arena.  Uma pena, pois certamente outros touros serão sacrificados por ele.

A boa notícia é que o parlamento da Catalunha, uma região autônoma da Espanha, decidiu sobre a proibição das touradas a partir de 2012.  Tomara que a moda pegue!



Vaca Estrela e o sonho do Zé Cecílio


Por duas vezes, na minha primeira infância, moramos em uma fazenda no interior de São Paulo, mais precisamente em Dourado.  Na segunda delas, início da década de 1960, recebemos a visita do Zé Cecílio, um primo que na época tinha 15 ou 16 anos de idade.
Para as pessoas que vivem na cidade, a vida no campo tem muitos atrativos, mas tem também algumas armadilhas.  E para o Zé, essa armadilha atendia pelo nome de Estrela.  Uma vaca arredia, de comportamento instável, que exigia cuidado constante mesmo das pessoas habituadas com a lida diária.  Sem chance de errar, ela foi responsável pelo maior susto que o Zé já teve na vida.
Em uma daquelas tardes, vaca Estrela foi levada ao curral para que pudesse ser tratada de uma ferida ocasional.  Foi laçada ao tronco – uma tora fincada no centro do curral para facilitar a imobilização de animais bravios.  Do lado de fora, Atílio, meu irmão mais velho, e Zé Cecílio, apoiados sobre as três tábuas da cerca, observavam.  Eu, ainda pequeno, me aboletei no telhado do paiol de onde tinha visão privilegiada.  Do lado de dentro, um vizinho da fazenda e meu pai tentavam dominar a Estrela, cujo laço já dava a volta necessária no tronco.  Bastava agora diminuir a distância para que ela fosse totalmente imobilizada.  Bastava, mas...  Num momento de fúria e usando de toda sua força, Estrela conseguiu se safar.  Meu pai correu para um lado, o amigo para outro e Estrela em direção à cerca onde estavam Atílio e Zé Cecílio, que segurava nas mãos um pedaço de pau.  Uma cabeçada, mais outra, e Estrela, enfurecida, não desistia.  Aos gritos meu pai pedia para que o Zé batesse com o pedaço de pau na cabeça dela.  De nada adiantou.  Lá pela quarta ou quinta tentativa, ela arrebentou a cerca.  Atílio conseguiu se livrar com certa facilidade.  Já o Zé correu para o lado errado e se deparou com outra cerca, esta feita de lascas de macaúba – uma espécie de coqueiro – com aproximadamente 1,5 metro de altura.  Mas não titubeou.  Passou por ela de forma acrobática, sem mesmo tocá-la, sequer com as mãos.  Caiu no terreiro da casa e assustado, subiu a escada que dava acesso à cozinha onde encontrou minha mãe.  Tia, disse ele, me dá um gole de café!
Embora assustador, o episódio foi motivo de muito riso depois.  Mas o melhor ainda estava por vir.
A nossa casa não tinha forro.  As paredes iam até a altura do teto e deixavam um vão entre o topo e o telhado.  Zé Cecílio dormia em um quarto com a cama encostada na parede.  Do outro lado ficava o quarto do Álvaro, o meu outro irmão.  Encostada na parede, uma escrivaninha.
E foi nesse cenário que no meio da madrugada, Álvaro foi acordado por um barulho.  Ao acender a lamparina, deparou-se com o Zé, imóvel e atônito, em pé sobre a escrivaninha.  O que você está fazendo aí, perguntou ele?  E respondeu o Zé: fugindo da vaca Estrela!
Pela manhã ficamos sabendo que Zé Cecílio sonhou com a vaca Estrela, pulou a parede e caiu em pé sobre a escrivaninha do quarto ao lado.

Passados 50 anos, há quem diga que o Zé Cecílio evita olhar para cima em noite de céu estrelado!