segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Rodeio, tourada, UFC...



O homem tem lugar de destaque na natureza pela sua capacidade de pensar. Não fosse ele, a natureza estaria hoje em sua forma mais primitiva. Afinal, somos nós que temos o dom de transformar tudo, além, claro, do que podemos chamar de fenômenos naturais.

Infelizmente, desse “bicho homem” podemos esperar tudo. Somos os únicos que matamos o semelhante sem nenhum motivo plausível. Tiramos a vida de outro ser humano por motivos fúteis – se é que existe motivo que justifique tamanha insanidade.


Mas tirar a vida do próprio semelhante não pode ser assim tão surpreendente, considerando que no dia-a-dia o homem já comete tantas atrocidades contra o reino animal. Logo, dá pra imaginar tratar-se apenas e(in)volução comportamental.

Qual a diferença entre o sacrifício do touro numa arena, a submissão de animais em uma festa de rodeio, a criação domiciliar de cachorros como o pit bull, ou mesmo uma luta de UFC?


Será mesmo que podemos chamar tudo isso de esporte (exceto a criação de pit bull, fora dessa denominação)?


Sabemos antecipadamente dos riscos. Submetemo-nos - e a outros, a sacrifícios extremos, pagando muitas vezes com a própria vida. Em nome do quê? Que sentido faz isso?


Pior, transformamos atitudes assim em espetáculo. E as arenas ficam abarrotadas de seres humanos, numa torcida frenética. E torcem para quem?

Será que vale mesmo a pena?

Eu estou, supostamente, acima da metade do meu tempo destinado à vida. E não tenho a menor dúvida de que morrerei sem encontrar respostas.

Respeito as preferências. Como diria Caetano Veloso, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Mas me permito o direito de discordar e de questionar.

sábado, 27 de agosto de 2011

Vidas Secas - O depoimento de Severina



Eu nunca estudei, nunca tive amiga, nunca arrumei um namorado na vida, nunca saí para ir a uma festa. Até os 38 anos, vivi assim, e foi assim até quando me desliguei do meu pai, no dia em que ele foi morto.

Meu pai não deixava eu e minhas irmãs fazermos nada. Toda a minha vida eu sofri. Comecei a trabalhar na roça ainda menina, com seis anos, arrancando mato.

Aos nove, fui com meu pai para o roçado. No caminho, ele me levou para o mato, amarrou minha boca com a camisa, me jogou de cabeça e tentou ser dono de mim. Eu dei uma pezada no nariz dele, e ele puxou uma faca para me sangrar.

A faca pegou no meu pescoço e no joelho. Depois, ele tentou de novo, mas não conseguiu ser dono de mim.

Em casa, contei para minha mãe e ela me deu uma pisa. Fiquei sem almoço.
À noite, minha mãe foi me buscar e me levou para ele. Me botou de joelhos na cama, tampou minha boca com o lençol e pegou nas minhas pernas para ele pular em cima. Eu dei um grito e depois não vi mais nada.

No outro dia, fui andar e não pude. Falei: "Mãe, isso é um pecado, é horrível". E ela: "Não é pecado. Filha tem que ser mulher do pai."

A partir daquele dia, três dias por semana, ele ia abusando de mim. Com 14 anos, eu engravidei. 

Tive o filho, e ele morreu. Eu tive 12 filhos com meu pai. Sete morreram. Seis foram feitos na cama da minha mãe. Dormíamos eu, pai e mãe na mesma cama.

Um dia, uma irmã minha disse que estava interessada em um namorado. O pai quis pegar ela, disse que já tinha um touro em casa, e que não era para ninguém andar atrás de macho lá fora. Eu mandei minha mãe correr com minha irmã, e ele correu com a faca atrás. Depois disso, minha mãe não ficou mais com ele. Foram todos embora para Caruaru, para a casa do meu avô. Ela e as minhas oito irmãs.

Só ficamos eu e meu pai na casa. Eu tinha 21 anos, e ele sempre batia em mim. Tentei me matar várias vezes, botei até corda no pescoço.

Os filhos nasciam e morriam. Os que vingavam foram se criando. Minha filha estava com 11 anos quando ele quis ser dono dela. Falou assim: "Nenê está engrossando perninha? Tá saindo peitinho, enchendo a melancia? Tá bom de experimentar, que é para ir se acostumando." E tacou a mão nela.

Eu falei: "Seu cabra da peste, está escrito na minha testa que eu sou Maria-besta? Eu sou filha de Maria, mas besta eu não sou." E ele: "Rapariga safada, Maria era mulher para todo acordo. E tu, não tem acordo?"

Nessa hora, eu disse para ele: "Se você ameaçar a minha filha, você morre. Minha mãe aceitou, mas eu não." Meu pai me bateu três dias seguidos, deu um murro no meu olho que ficou roxo.

Na segunda, ele amolou uma faca e foi vender fubá [farinha de milho]. Antes, disse: "Rapariga safada, quando chegar, se você não fizer o acordo, vai ver o começo e não o fim." Eu respondi: "Ô pai tarado da peste, se você ameaçar a minha filha, você morre." Ele foi para a feira e eu, para a casa da minha tia. Lá, mostrei meu corpo lapeado, o olho roxo, o ouvido estourado.

Meu pai tinha amolado uma faca de 12 polegadas na segunda-feira à noite e me mataria na terça se eu não fizesse o acordo. Foi quando paguei para matarem ele.

Peguei um dinheiro que tinha guardado, fui para Caruaru e, na casa do Edilson, paguei R$ 800 na hora.

Quando o pai chegou, o Edilson veio acompanhando. Foi quando acabou a vida dele. O rapaz arrumou um amigo e fez o homicídio. A faca que ele havia comprado, interessado na minha vida, ele morreu com ela.

A minha filha, a filha dele, eu salvei. Quem é pai, quem é mãe, dói no coração. Levar a sua filha para a cama, abrir os quartos dela, como a minha mãe fez, e o pai ir para cima da filha? Eu, como passei por isso, jamais iria aceitar.

Antes disso, eu ainda procurei os meus direitos, mas perdi. Há uns 15 anos, fui na delegacia, mas ouvi o delegado falar para eu ir embora e morar com o velhinho (o pai), que era uma boa pessoa.

O homicídio foi no dia 15 de novembro de 2005. No cemitério, já tinha um carro de polícia me esperando. Na cadeia, passei um ano e seis dias. Fiquei no castigo, depois fui para uma cela.

Depois do julgamento, fiquei feliz. Antes, pensava na liberdade e na cadeia ao mesmo tempo. Agora, quero viver e ficar com meus filhos. Quero que minha história sirva de exemplo, para que os pais e as mães procurem respeitar os seus filhos, ser amigos deles. A gente é pobre, mas pobreza não é desonra. Desonra é o cara fazer do próprio filho um urubu.

A partir de hoje eu quero é viver, porque tenho muita coisa para aproveitar pela frente. Tenho a liberdade e os meus filhos comigo.

A agricultora Severina Maria da Silva, 44, foi absolvida pela Justiça de Pernambuco em 25.08.2011. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Touro 2 x 0 Toureiro


Tempos atrás postei aqui um texto sobre o mesmo tema (A vingança do touro).

A cena agora, embora aparentemente menos traumática, aumenta ainda mais a minha torcida a favor do touro. 

Não sou contra o espetáculo chamado de tourada. Desde que, claro, não maltratem o animal. Mas, infelizmente, não é dessa forma que a coisa acontece.

Continuo não entendendo porque espetam aquelas espadas no lombo do pobre animal até a sua morte. Porque não ficar apenas nos dribles do toureiro com o pano vermelho?

Enquanto isso não acontecer, continuarei na torcida.

Sou touro desde pequenininho!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cavalgada na Serra do Brigadeiro

No final de semana passado tive o prazer de participar de uma cavalgada com amigos mineiros na Serra do Brigadeiro, entre os municípios de Araponga e Pedra Bonita. Impagável!


Organizada pelo Zé Antonio, da Aldeia da Vida, o grupo contou com 27 cavaleiros e teve como mascote o João Pedro, de 8 anos. Figuraça! Aguentou firme dois dias na sela de um pampa, sem reclamar. Bem, quase sem reclamar. A certa altura ele se queixou de algumas dores, especialmente nas mãos (segurando as rédeas) alegando que o cavalo era meio “queixo duro”.


Tudo perfeito. Desde a organização, passando pelo grupo, e chegando à paisagem. Isso sem falar do café da manhã com pão com linguiça, queijo mineiro na chapa e ovo frito.



Voltei pra casa com dores por todo o corpo, pernas assadas, bolhas nos calcanhares – causadas por um par de botas novas – e com pelo menos uns 10 pontos a mais no colesterol. Mas... Feliz... Muito feliz!


A Serra do Brigadeiro abriga o Parque Estadual do mesmo nome criado em 1996, abrangendo os municípios de Araponga, Divino, Ervália, Fervedouro, Miradouro, Muriaé, Pedra Bonita, Rosário de Limeira e Sericita na Zona da Mata de Minas Gerais. A região é um santuário ecológico da Mata Atlântica. Com fauna e flora riquíssimas, esbanja beleza desde sua base até os pontos mais elevados – Pico do Soares e Pico do Boné.


Entre ida e volta, aproximadamente 70 kms de percurso em estradas de terra e trilhas – estas já dentro do parque. Poeira, pedras, descidas e subidas. Riachos cristalinos, pinguelas de madeira, cachoeiras. Um cenário inimaginável.


Eventos assim nos permitem a perfeita interação com a natureza. Passamos a valorizar ainda mais as belezas que nos cercam.

Rimos muito, conversamos muito, conhecemos pessoas novas e aprendemos mais sobre as pessoas já conhecidas.

Mesmo para aqueles habituados a essas aventuras, certamente a vida passa a ter mais sentido, mais importância a cada vez que nos entregamos a tal prazer.

Agradecimento especial ao Zé Antonio e seu time, responsáveis pela organização.  E aos amigos Ricardo e Zé Mauro, sem os quais a minha participação seria impossível – como sempre.



Como chegar

O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro fica na Zona da Mata, no sudoeste de Minas Gerais, a 330 Km de Belo Horizonte, 230 Km de Juiz de Fora e 60 Km de Viçosa e Carangola. Horário de funcionamento: 08:00h às 17:00h. Informações: (032) 37217491.

Conheça a Aldeia da Vida: http://www.cavalgadaaldeiadavida.com.br