sábado, 18 de dezembro de 2010

Sobre deputados e senadores

Registrada a minha indignação, cabe agora uma reflexão sobre o episódio do aumento salarial.

Final de ano.  Diplomação consumada.  Posse dos novos eleitos em janeiro.  Eleição dos novos presidentes de ambas as casas, Câmara e Senado.  Negociações, barganhas.  Esse é o pano de fundo que acabou culminando em tão desastrosa medida.  Legal sim, porém imoral.

Na tentativa de angariar a simpatia de todos, o deputado gaúcho Marco Maia (PT) que assumiu recentemente a presidência após a renúncia de Michel Temer (PMDB), defendeu com unhas e dentes a proposta.
 
O alvo principal, claro, foi o grupo chamado de ‘baixo clero’.  São representantes com menor expressividade político-partidária, com pouco ou nenhum acesso à mídia, mas que unidos representam votos decisivos para a escolha da nova presidência.  Já vivemos isso num passado recente, quando da desastrosa eleição de Severino Cavalcante.  Lembram-se disso?

A minha indignação, embora imensurável, não me impede agora de defender algumas idéias que julgo importante.

Remuneração:  Congresso x Mercado

Quando imaginamos salários acima de R$ 26.000,00 + verbas, pode soar como um absurdo para a maioria de nós, os comuns.  No entanto, quando comparamos a remuneração da iniciativa privada para cargos diretivos, veremos que não se trata de algo exagerado.  Em muitos casos, nem se equiparam.  Se fizermos uma pesquisa nas 500 maiores empresas, depararemo-nos com valores superiores.

É preciso considerar que a remuneração é fundamental para a preservação da isenção e da dignidade, embora isso não se aplique apenas a cargos de relevância ou mesmo públicos.  Tão pouco a índole e o moral de qualquer mortal esteja, necessariamente, vinculada a valores financeiros.

Exemplos mundo a fora, no entanto, nos mostram que se não houver remuneração condizente, os cargos políticos serão ocupados apenas por pessoas com recursos elevados e interessadas tão somente em atuar em causa própria.  Claro que isso, especialmente para a nossa realidade, não impede que uns tantos brasileiros, ainda que abastados, se locupletem desses cargos.  Mas, convenhamos, uma remuneração adequada contribui para o exercício da função, na medida em que fortalece aqueles que lidam cotidianemnte com os tentáculos da corrupção.  Se presta ela também como estímulo para outros tantos menos favorecidos financeiramente, mas com disposição e espírito público para servir. É, ainda temos gente assim por aqui.  Precisamos apenas cuidar melhor das nossas escolhas.

Salário x Desempenho

A questão fundamental está no desempenho que esperamos daqueles que receberam o nosso aval, o nosso voto.  E isso, bem sabemos, está muito, mas muito aquém do que gostaríamos.

Queremos respeito, seriedade, dedicação, transparência, dignidade, comprometimento e, acima de tudo, um olhar único, verdadeiramente direcionado às causas sociais.  Espírito público.  Se assim fosse, tenho certeza de que não teríamos essas preocupações com a remuneração.

Em boa parte, a responsabilidade é nossa.  Quantos de nós sabemos dizer para quem votamos nas últimas eleições?  Que deputado elegemos?  Senador?  Prefeito?  Quantos de nós acompanhamos o desempenho de cada eleito?  Fica a sugestão para reflexão. 

O preço da Democracia

Por fim, precisamos lembrar sempre:  Quanto custa a democracia?  Quanto custa um estado de direito?  Quanto custa uma legislação adequada?  Quanto custa uma imprensa livre?  Quanto custa a liberdade de expressão como neste espaço virtual?  Isso tudo tem preço!

Para os mais jovens que não sentiram na pele o que é viver sob as garras de um regime ditatorial, talvez seja irrelevante.  Mesmo para aqueles que não vivenciaram os anos de ditadura, mas que são antenados, que leram, aprenderam, se torna difícil imaginar a exata dimensão do que representou aquele período.


Foi duro!  Acreditem!  Aos incrédulos, lembro que eu também não estava aqui quando Pedro Álvares Cabral chegou.

Considerações feitas, me resta torcer e, porque não, tentar contribuir para que um único sentimento aflore entre nós:  não queremos mais nos envergonhar daqueles a quem damos o nosso voto.


Mas democracia, sempre!

Sou brasileiro, sou Anderson Tenca.

Carta de apoio a deputados e senadores

Sobre aumento salarial


Senhores 
Sei da nobre causa pela qual vocês tanto trabalham em nome do povo brasileiro que democraticamente os elegeu.  Não pretendo tomar o tão precioso tempo de todos, mas gostaria de tecer alguns breves comentários.
Apenas como ilustração, tomemos o Brasil como uma pirâmide. Os senhores do Legislativo, e os demais do Executivo e Judiciário, em Brasília, representam o topo.  Juntos e misturados no topo, embora fisicamente afastados do planalto, estão os nossos demais representantes nas esferas estaduais e municipais.  Nós outros, os comuns, vamos descendo gradativamente até compor o restante da base.
O que nos difere um pouquinho, é que nós da base não temos alguns privilégios.  Nada demais.  Essas coisas do poder e das facilidades que os senhores têm.  É bem verdade que nós ainda não temos também o mesmo comprometimento, mas isso, cá entre nós, nem caberia, não é mesmo?  Afinal, a base não é composta de representantes tão dignos quanto os senhores. Aqui mais embaixo existe todo tipo de gente.  Tem gente boa também, mas não é assim como no topo.  Aqui temos alguns vagabundos, uns bandidos, alguns malucos.  Tem quem roube a própria mãe, tem drogados, analfabetos, outros tantos favelados, e mais um punhado de pessoas que sequer se preocupam em ter um teto pra se abrigar.  E tem ainda, pasmem, um grupo mais radical que insiste em sobreviver sem comida. 
Mas eu até consigo compreender e aceitar esse imenso abismo que nos separa. E nem me arriscaria a defender com maior vigor as mesmas condições do topo.  Afinal, nós não recebemos os seus votos para nos tornar representantes de nada.  Não seria justo!  Qual a importância que temos nós, os da base?  Só porque somos a absoluta maioria da população?  Bobagem isso!  O mundo sempre foi assim.  Uma minoria melhor preparada e mais abnegada sempre comandou e comandará uma maioria que não tem a mesma dedicação, o mesmo desprendimento, não é verdade?
Mas, abandonemos essas chatices.  Não quero me prolongar em assuntos dos quais os senhores, de alguma forma, já devem estar saturados.  A minha intenção aqui é ser solidário.
Como todos nós que não exercemos cargos políticos, vocês também merecem ter os vencimentos corrigidos.  Afinal, mesmo que pequena, a inflação ainda permeia a nossa economia.  E se nós temos, porque não os senhores?
E não falo apenas do salário mensal.  É óbvio que as demais verbas que compõem a cesta de benefícios (auxílio moradia, passagens aéreas, combustível, verba de gabinete e etc.) também carecem de reajustes.  É uma incoerência.  Vocês não pensaram nisso?  Ou a correção é automática?  Ah, e não importa que tais verbas tenham sido criadas por vocês, em tempos remotos, com a justificativa de que o salário era muito pequeno.  Direito adquirido, oras.  Simples assim.
Retomando o exemplo da pirâmide, vocês do topo, obviamente, compõem um seleto grupo que ostenta níveis de capacidade e inteligência que despertam a admiração da base.  Sabem mesmo como ninguém agir nesses momentos delicados. Sinceramente, invejo isso!
Numa prova inconteste de raciocínio, agilidade e velocidade, conseguiram em curtíssimo tempo o que nós da base levamos décadas lutando e raramente obtemos êxito.  E mais: demonstraram um espírito de grupo que a moçada aqui debaixo jamais seria capaz.  Aqui, cada um corre atrás do seu.  Quando corre.  São uns pobres individualistas, mesquinhos, desunidos. Vê lá se alguém vai se preocupar em estender benefícios e conquistas, quaisquer que sejam, aos vizinhos, colegas de trabalho, parceiros.  Isso aqui é a base da pirâmide.  Desunião total.
Fiquei envaidecido ao ver que esses poucos mais de 60% de reajuste salarial, cuja batalha se iniciou na Câmara e alcançou o Senado serão repassados a estados e municípios.  E que visão de futuro vocês tiveram.  Lá no passado já pensaram nisso. Coerente não deixar de fora os nobres companheiros distantes geograficamente do planalto.  Aqueles do topo.  Isso, claro, sem excluir os ministros, a cúpula do judiciário e a Presidência da República também.  Nem poderia, não é mesmo?  Fiquei triste ao saber que o Presidente Lula não será contemplado. Mas acho que consigo entender.  O processo tinha de ter celeridade e isso acabou impedindo que se pensasse em um aumento retroativo, não é mesmo?  Bom, ele está mesmo de saída e acho que nem se magoará muito. 
Tristeza de uns, alegria de outros.  Foi comovente ver o deputado eleito Tiririca em sua primeira visita à Câmara.  Ele estava numa felicidade!  O cara é pé-quente mesmo, hein?  Ele só não acertou muito no refrão de campanha.  Afinal, ficou muito melhor.  E olha que ele nem assumiu ainda!  Gostei também de um deputado do DEM falando ao Jornal Nacional.  O sujeito soube mesmo como defender a importância do trabalho legislativo.  E não se fez de rogado, reconhecendo o mérito do reajuste.  O senador Suplicy mandou bem também.  A função é digna e tem de ser bem renumerada.
Bom, é isso.  Não falo em nome do povo brasileiro, posto que dele não recebi nenhuma autorização.  Mas me arrisco a dizer que a grande maioria dos cidadãos comuns, aqueles todos que compõem a base da pirâmide, há de concordar com este singelo manifesto de apoio.
Peço a Deus que nada, mas absolutamente nada, seja capaz de provocar algum tipo de desvio em suas condutas nos cargos que exercem.  Continuem com essa grandeza de espírito e com essa dedicação às causas que defendem.  E não percam tempo com a base.  Bobagem!  A gente vai se virando aqui embaixo. 
No mais, fiquem tranquilos, pois nas próximas eleições estarei lá cumprindo o meu dever.  E que isso também não seja motivo de apreensão.  Até lá eu já terei me esquecido de tanta coisa!  É, acreditem, isso aqui embaixo, na base, é muito comum.  A gente se esquece fácil.  
Sou um brasileiro, sou Anderson Tenca.