segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A importância da língua inglesa


New York City, 1981.  Eu havia chegado há alguns dias e me hospedara na casa de Edilberto, a quem eu entregara um presente vindo do Brasil.  Rosângela, uma amiga em comum, havia me pedido tal gentileza.

Não conhecia a cidade, não falava absolutamente nada de inglês.  Edilberto, muito simpático, sugeriu que eu ficasse lá até encontrar um local definitivo.  Amigo de Rosângela é meu amigo também, disse.  Ele dividia o apartamento com Fernando, de quem tinha sido companheiro.  Ambos gays.  E só descobri isso lá.  A nossa amiga me contara apenas metade da história.

Alguns dias depois, Edilberto chegou em casa dizendo que encontrara um bom lugar para eu me hospedar temporariamente.  Arrumei a mala e fui.

Na entrada, a placa: YMCA.  Inocente e desinformado, só me lembrei da música do Village People.  Mais nada.  Eu sabia até cantarolar, mas não tinha a menor idéia do tema tratado.

O quarto era minúsculo.  Um calor insuportável.  O banheiro, coletivo.  Pelo avançado da hora, não cruzei com ninguém enquanto me banhava.

Liguei a TV.  Passava um jogo da seleção brasileira de juniores.  Para driblar o calor, abri a janela e deixei a porta entreaberta, calçada por um chinelo.

Era a senha!

Não mais do que 10 minutos foram suficientes.  Alguém bateu.  Falou em inglês.  Não entendi nada.  Falou em espanhol.  Respondi em portunhol.  Pediu para assistir o jogo comigo.  Achei estranho.  Mas homens adoram futebol.  Porque não?

Trocamos algumas palavras e ele se sentou aos pés da cama.  Até então, era um torcedor dividindo as emoções da partida. 

De repente, mãos finas tocaram os meus pés.  Opa!  E enquanto a mão se movia delicadamente, percebi que o tom de voz já era diferente.

A ficha caiu!

E acabei perdendo boa parte do jogo para explicar ao companheiro torcedor que o sonho dele não tinha a menor possibilidade de se realizar.  E tudo isso em portunhol!

Ele foi extremamente educado e se retirou.

Assustado, passei a chave na fechadura.

Eu, hein?  Aff...

Young man, are you listening to me?
I said, young man, what do you want to be?
I said, young man, you can make real your dreams.
But you got to know this one thing!

No man does it all by himself.
I said, young man, put your pride on the shelf,
And just go there, to the YMCA
I'm sure they can help you today.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Todo dia é sexta-feira



Chega um tempo na vida que todos os dias parecem ser sexta-feira.  E não estou falando de aposentadoria. 

É claro que precisamos envelhecer para saborear isso.  Não podemos confundir envelhecer com estar velho cronologicamente.  Envelhecer é um processo contínuo.  Envelhecemos desde o nascimento. 

Repito sempre que o melhor do processo de envelhecimento é a sabedoria.  Não nascemos com ela.  Nós a adquirimos ao longo do tempo.  Vivendo, fazendo, acertando ou errando.  Envelhecendo a cada dia.

Se envelhecer é compulsório (basta permanecer vivo), logo a sabedoria também o é, certo?  Pode ser.  Depende de cada um de nós.

Mas não basta apenas adquirir sabedoria.  Ou será que ela, por si só, nos transforma em pessoas melhores, mais felizes?  Não creio.  Afinal, a sabedoria nos permite saber o que deve ser feito.  Daí em diante, é a virtude que faz a diferença.

Então, mãos à obra.  Se a sua sabedoria ainda é pequena, não importa.  Comece agora a exercitar.  Arrisque-se.  Permita-se.  Gratifique-se.  Não arrume justificativas ou desculpas.  

Faça a sua sexta-feira, seja lá o que for.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sobre filhos





Como diz a filósofa sancarlense Cecília Ferrari Tenca, filho é um “abacaxi” que arrumamos para o resto da vida.


Não tenho dúvida.  Se a decisão sobre ter ou não ter filhos fosse apenas pragmática, o mundo hoje estaria despovoado. 

Quando ele nasce, é porque é pequeno, ainda não aconteceu a tão esperada interação entre pais e filho.  Depende de colo e de atenção 24h por dia.  Vem a fase dos primeiros passos, e pensamos que tudo será diferente.  De certa forma, melhora.  Mas aí temos de correr atrás o tempo todo, levantar da altura de suas mãos tudo que não pode ser tocado.  Depois, creche, alfabetização, adolescência.  E assim vai de fase em fase até o casamento, quando nos iludimos pensando que “nos livramos” dele definitivamente.  Doce engano.  Logo virá um neto.  E logo teremos um neto para cuidar.  É assim a vida.

Mas depois das emoções vividas neste de final de semana, eu acrescentaria: quando comemoramos a formatura do filho e, coincidentemente, a sua saída de casa para trabalhar fora, o chororô é muito grande!  É uma mistura de dever cumprido com perda.  Orgulho com dor.  Dor boa, se é que isso existe.

Eu já deveria ter vivenciado isso anteriormente, mas a vida, de alguma forma, acabou me privando.

Pai e mãe são "bobos" por natureza.

Não sei contar as vezes em que me desmanchei em prantos em eventos proporcionados pelos meus filhos.

Nem posso contar, pois enquanto eu viver sei que outras ainda virão.

E se o tal do “abacaxi” tem um lado bom, é esse.

Alguém mais crítico dirá que isso é o mínimo possível para recompensar as agruras dos pais.  Pode ser.

A gente sofre muito. Mas que é bom é!

E para reflexão dos atuais e dos futuros papais:

Não se preocupe em deixar herança para os seus filhos.  Falo de dinheiro, de bens.  Invista tudo o que puder na formação deles.  Formação no sentido mais amplo da palavra.  Amor, generosidade, solidariedade, respeito, educação, boas escolas, cidadania, responsabilidade, passeios, viagens, cultura, diversão...

Faça isso e eles chegarão à fase adulta prontos para viver de forma plena e intensa.

E que Pedro, João e Marina não me desmintam!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A nossa Terra em crise

A natureza é tão pródiga que mesmo castigada é capaz de proporcionar belas imagens.  E de nos brindar com pessoas como o fotógrafo e ativista J. Henry Fair.  Ele viaja o mundo a bordo de um helicóptero para retratar o impacto de ações humanas no meio ambiente.  As fotos abaixo foram publicadas no livro "The Day After Tomorrow: Images of Our Earth in Crisis" (O dia depois de amanhã: nossa Terra em crise).

Fonte: UOL - J. Henry Fair - Cortesia: Gerald Peters Gallery

Espuma formada em lixo contendo resíduo de bauxita, emitido por uma fábrica de alumínio na cidade de Darrow (Louisiana) 

"Percepção Oculta" mostra o petróleo derramado no Golfo do México, após a explosão de uma plataforma da BP

'Abstração de destruição' retrata a degradação em Geismar, Louisiana  

Esgoto com resíduo de fertilizante despejado em Geismar, Louisiana

Lixo tóxico é despejado em Convent, também no Estado de Louisiana. O material é resíduo da produção de fertilizantes

Reservatório com resíduos de papel, em uma fábrica de lenços em Ontário, no Canadá. A fibra de madeira usada na produção é retirada da reserva florestal de Kanogami


Essa outra foto da fábrica de herbicidas em Louisiana foi batizada de 'Gangrena'


Essa foto mostra um lago de dejetos em uma fábrica de herbicidas na Louisiana

Na imagem, ácido sulfúrico 

"Caleidoscópio" mostra centro de destilação de petróleo para obtenção de betume em Fort McMurray, na província canadense de Alberta. O processo causa grande impacto ambiental








quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Tragédia com data marcada

Foto: Terra

Tanto quanto um show de final de ano do Roberto Carlos, todos nós brasileiros sabemos que tem enchentes em janeiro.  E não raro grandes tragédias.  Santa Catarina há 2 anos, Angra dos Reis ano passado, e agora a região serrana do estado do Rio.  Essas duas últimas não atingiram apenas os menos favorecidos das encostas, como é mais habitual.  Bairros inteiros foram devastados.  E já se contabiliza mais de 420 mortos.

No caso de Nova Friburgo, houve uma tromba d’água como nunca visto.  Acontece que uma obra iniciada em 1996, no rio que corta a cidade, sabe-se lá porque, até hoje não foi concluída.  E agravou ainda mais a situação.

Em São Paulo, o estrago foi um pouco menor, mas além de danos materiais, também há pessoas mortas e desaparecidas.


Foto: UOL


E a piada de ontem, não fosse trágico, veio do Governador Alckmin quando disse “Obras contra enchente não ficam prontas em 24h”.  Ora Sr. Alckmin, o seu partido está no poder em São Paulo há pelo menos 20 anos, incluindo mandatos seus!  E já há algum tempo tem na prefeitura da capital um aliado político do DEM. Será que 20 anos não são suficientes para obras contra enchentes?  Só os questionáveis piscinões? 

Agora ouvimos governadores, prefeitos e a presidente dizendo que recursos serão liberados para investimentos nas obras necessárias.  E aluguel social, cesta básica, liberação de FGTS.  Fica mais caro socorrer do que prevenir.  É óbvio isso.  Sem falar que a não prevenção custa a vida de centenas de pessoas anualmente.  Isso a esmola pública não resolve.

Não bastasse, tem a burocracia de sempre.  Hoje descobri que a verba federal para socorrer Angra dos Reis só caiu na conta da prefeitura no mês passado.  Um ano depois.  E mesmo assim, R$ 50 dos R$ 80 milhões prometidos.

A grande verdade, meus caros, é que obras de prevenção não são interessantes sob o ponto de vista político.  Tragédia consumada, é muito legal ver os políticos sobrevoando a região, dando entrevista, abraçando e confortando os sobreviventes.  Mas chegar lá num dia de sol, com céu azul, e dizer para aqueles pobres coitados que a o poder público vai desalojá-los das encostas, isso nenhum prefeito e governador quer ou faz.


Buemba! Começou o Big Bagaça Brasil, o realityputaria!


Fonte: UOL

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Poeta e Poema

De
Tanto
Procurar
Pela
Palavra
Perfeita,
Pela
Rima
Bem
Feita,
O
Poema
Se
Perdeu.
Foi
Descendo
Até
Esgotar
A
Pauta.


De
Tanto
Procurar
Pela
Mulher
(Palavra)
Ideal,
Bonita
E
Eclética,
O
Poeta
Se
Esvaiu
No
Vazio
Da
Estética.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O avião, a elite e as classes C e D



Definitivamente, o Brasil ainda é um país para poucos.  Não tem Brasil para todos os brasileiros.  E não há exemplo melhor do que o transporte aéreo para comprovar esta tese.

Durante décadas, viajar de avião era um glamour, um privilégio de uma minoria.  Viagens internacionais então, nem se fala.

Éramos bem tratados, desde o check-in, passando pelas refeições servidas a bordo, com o requinte de talheres em aço inox e até prata.  Mesmo em voos domésticos e de curta duração.

Há dez anos começaram a surgir empresas low cost low fare.  Com elas, a simplificação dos processos e a substituição das refeições mais elaboradas por barrinhas de cereal e pacotinhos de biscoito. Hoje em dia, nem isso.  Já tem empresas cobrando pela bebida e pelo lanche.

Custos menores, tarifas menores.  Com isso, um número maior de pessoas passou a utilizar o transporte aéreo.

No mesmo período o país saiu de quase duas décadas de estagnação e voltou a crescer.  Economia aquecida, aumento de renda, mais brasileiros nas filas de embarque.  O caos tinha data marcada para acontecer.  Afinal, nesses dez anos pouco ou nada foi feito para atender o crescimento da demanda.  Os aeroportos são exatamente os mesmos.

O resultado todos nós conhecemos.  Além dos problemas que já existiam, como a prática do over book, temos aeroportos super lotados, voos cancelados, atrasos, protestos, tripulação exaurida, xingamentos, depredações e maus tratos da parte de atendentes despreparados.

Bom, até aí, não vejo nada de estranho.  Pelo contrário, era previsível e até inevitável.  Impossível resolver simultaneamente todos os problemas do país.  Miséria e fome, infraestrutura, educação, saúde, segurança pública...  Abrindo um parêntese, é louvável que nesses últimos anos tenhamos evitado que milhões de brasileiros morressem de fome.  E embora eu não seja a Madre Tereza de Calcutá, penso nisso quando tenho de embarcar em um terminal lotado.

Mas o que mais me incomoda nessa história toda é ver uma meia dúzia de idiotas esbravejando contra o fato das classes C e D utilizarem o avião como meio de transporte.  Já ouvi coisas tão absurdas que tenho vergonha de escrever aqui.

É bem verdade que falta “bons modos” para essas pessoas que estão chegando agora. Natural, pois em função de terem sido mantidos à margem do "paraíso consumista", não têm hoje a menor familiaridade com o transporte aéreo.  Não sabem como se portar no momento do embarque.  Têm medo do Raio X.  E, pasmem, tem gente que sequer usa o banheiro por não saber abrir a porta.

Teremos de conviver com essa situação por algum tempo ainda.  Felizmente, vejo crianças pequenas nesse meio.  Logo elas crescerão, e diferente de seus pais, saberão muito bem ocupar os seus lugares e apertar os cintos.

E quanto à elite, só lamento.  Mais do que nunca, é preciso que ela também aperte o seu cinto. Mesmo que seja no pescoço.

Quem tiver muito dinheiro, compre um avião.  Quem tiver um pouco menos, alugue um táxi aéreo.  Para os demais, este é o país que temos agora.

domingo, 9 de janeiro de 2011

A vida no ritmo dos passos


Gosto de andar a pé.  Ainda que percorrendo caminhos repetidos, tenho a oportunidade de observar melhor o cotidiano, as pessoas, e até as cores que se alteram conforme a luz do dia.

A rua é a mesma.  As casas e prédios, idem.  Mas a sua dinâmica é diferente a cada nascer do sol.  A rua tem vida própria.

O bar da esquina tem a mesma configuração de sempre, mas quando passo por ele é possível observar algo novo.  Até aquele executivo de terno escuro, que habitualmente toma a sua cerveja, na mesma cadeira da mesma mesa, é diferente.  Observo rapidamente o seu semblante e vejo uma expressão nova a cada vez.  Sei que um dia está mais feliz, outro nem tanto. Por vezes, um ar de preocupação.

A banca de frutas há anos montada sob a marquise do prédio, na mesma esquina, pelo mesmo vendedor.  Nada mudou nesse tempo, sequer o plástico azul que a protege da chuva com vento.  Mas é fácil notar que a banana está mais madura, que uma fruta de época é vendida a preços menores ou em quantidade maior.

A senhora de idade já avançada, pequena, magrinha, lenço na cabeça, olhos pesadamente pintados, e sobrancelhas onde a ausência dos pêlos é compensada por um lápis preto.  Exatamente igual.  Todos os dias.  Mas me desperta reações diferentes.  Teria sido ela uma artista?  Atriz ou cantora?  Por vezes penso que é uma mulher só, sem filhos ou companheiro, alguém que pudesse dizer a ela que não há necessidade de se pintar assim tão exageradamente.  Que a beleza roubada pelo tempo não tira dela o prazer de estar viva, de ter envelhecido.

O vizinho de meia idade que se veste invariavelmente em tons cáqui, bermuda e camiseta, botinhas em couro camurça e uma bolsa a tira-colo.  Vê-lo, é como mirar a mesma foto.  Mas um dia me cumprimenta, outro não.  Um dia me para pra dizer que me convidará para fazer uma palestra no seu curso de História.  No outro passa direto por mim, como se não me conhecesse.

Os meninos e meninas do colégio.  Cresceram.  Viraram adolescentes.  Usam celulares.  Roubam um beijo apoiados no carro estacionado.  Ainda ontem eu os via sendo levados pelas mãos da mãe até o portão de entrada.  Hoje passaram do banco de trás para o da frente e descem com seus casacos amarrados na cintura.

A vida pode ser diferente quando observada no ritmo dos passos.  Experimente.  Com um olhar atento você se deliciará com o novo, identificado na aparente mesmice de sempre.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Poesia

Não sou poeta.  Eventualmente escrevo alguns versos.  Faço uso da pouca inspiração como uma forma de conviver com as minhas emoções.  Quase tudo que escrevi e escrevo, advém das grandes paixões.

Poesia não se explica.  Quem a escreve sabe de seus motivos.  Quem a lê, se fonte não for de tal inspiração, pode e deve admirá-la.  Se não pelo conteúdo, ainda sobram beleza e estética.

Encontros matinais

Há dias
Tardes e noites se repetem
Monótonas, paraíso sem maçãs

Há dias
Tardes e noites
Me remetem
Ansioso, ao encontro das manhãs

Para Anna Christina, a quem eu via apenas pela manhã.



Desce, irmão!

Quem nasceu e viveu no interior, especialmente os mais antigos, conhece bem aquelas crenças populares, do tipo: não imite um gago porque se bater um vento forte você também ficará; não envesgue os olhos, se não, idem;  não tome banho de barriga cheia;  não brinque com espírito e;  por aí vai.  E sobre espírito, tem a famosa frase “Desce, irmão!”.

Morávamos numa chácara no interior de São Paulo, onde tínhamos uma granja.  De um lado os galpões alinhados paralelamente, no centro a nossa casa e do outro lado, à frente dos galpões, uma construção que servia de depósito para ração e ovos. 

Um dos meus irmãos e eu tínhamos o hábito de brincar com uma pequena bola de meia no terreiro à frente do depósito.  Bola de meia, como o nome já diz, é feita com retalhos de tecido embolados e revestidos por um pé de meia.  Por isso mesmo, pesa bem pouco, principalmente aquela nossa, de tamanho bem reduzido.

Lá estávamos nós a brincar.  Fazíamos embaixadas, chutávamos um para o outro e também, de vez em quando, jogávamos a bola sobre o telhado e enquanto esperávamos pelo seu retorno gritávamos: desce, irmão!  Obviamente, ela sempre descia.

Mas naquela tarde, algo diferente aconteceu.  Alguém havia colocado uma barra de cano de metal, com 5 ou 6 metros de comprimento.  Pesava um bocado.  Ela estava em pé e apoiada sobre a primeira fileira de telhas. E eu, todo faceiro, de cima dos meus 7 anos de idade, joguei a bola sobre o telhado e me pus bem próximo a esperar pela sua volta.

Desce, irmão, gritei!  E desceu.  Desceu, bateu no cano e o cano também desceu...  Bem no meio da minha cabeça!  Tudo muito rápido!

Assustado e com dor, demorei alguns segundos para perceber o que havia ocorrido.  Dá para imaginar que uma bolinha de meia muito leve, um pouco maior do que uma laranja, derrubaria uma barra de cano muito pesada?  Terá sido a mão de um “irmão” já aborrecido com a brincadeira?  (rsrs)

O fato é que de lá pra cá, só pronuncio “Desce, irmão” quando um dos meus está numa escada, numa cadeira ou coisa parecida.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Enquanto isso, no congresso brasileiro



É, tem jeito mesmo não.  Primeiro, aquele aumentozinho básico de 62%, com efeito cascata para todo mundo.  Todo mundo da corte, claro.

Mas, como o episódio do aumento passou batido, resolveram dar prosseguimento à farra.  Explico.  Com a posse dos eleitos para cargos majoritários (presidente e governadores), novos ministros e secretários de estados foram nomeados.  Para ficar apenas no senado, há casos de senadores que não foram reeleitos e que foram nomeados para o cargo de ministro.  Como a posse dos novos senadores acontecerá apenas no dia 1º de fevereiro, a legislação permite que o suplente assuma em seu lugar.  Por 20 e poucos dias.  Normal, dizem eles.

Assim, esses caras de pau terão direito a tudo que um senador eleito tem.  Salário corrigido, todas as verbas acessórias e até a nomeação de novos funcionários para o gabinete.  Ou seja, nós, pobres cidadãos contribuintes, teremos de arcar com mais esse custo.

Vá lá que a atual legislação permita.  Mas cá entre nós, é muito cinismo, não?  Enquanto se debate o novo salário mínimo – para ficar apenas nisso – o Ministro Mantega diz que se o congresso determinar um valor maior do que os R$ 540,00 propostos, a Presidente Dilma vetará. Ninguém bota a mão na consciência!  Para algumas medidas, há dinheiro.  Para outras, nem pensar.

E assim vai.  Será mesmo que todo povo tem o governo que merece?  Leia-se governo toda a estrutura de poder.  Estou começando a acreditar nisso.  Até porque, decorridos quase 30 dias do famigerado aumento, pouco ou nada se viu em termos de reação popular.  E se não fizermos nada, tudo continuará como antes.  Antes e sempre!

Sai presidente, entra presidente, e todos prometem uma reforma política (entre outras).  Mas ninguém consegue fazer.  Reclamamos muitos deles por isso, desde os tempos de Sarney.  Na verdade, o problema é mais embaixo.  Ou mais ao lado, em se tratando de Palácio do Planando e Congresso.

Escrito por alguém que insiste em permanecer brasileiro.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tinho e o enterro de um morto vivo

Muito já se ouviu sobre lendas tenebrosas a respeito de pessoas que teriam sido dadas como mortas e enterradas vivas durante um surto de catalepsia.  Especialistas, no entanto, garantem que isso é altamente improvável.  Se algo parecido ocorreu, de fato, só pode ter sido em um passado muito remoto.

Um desses episódios é contado e recontado em uma cidade do interior de Minas Gerais.  E por ser muito engraçado, resolvi compartilhar aqui.  Por respeito às pessoas - afinal, deve ser apenas uma lenda mesmo - os nomes são fictícios e a cidade é omitida.

Agripino, um cataléptico cinquentão, participava de uma partida de futebol entre amigos quando subitamente caiu paralisado.  Imediatamente, todos correram para socorrê-lo.  Um médico que estava no local logo se apresentou para examiná-lo.  Diagnóstico: estava morto.

A família, embora com alguma posse, passava por uma situação financeira difícil.  Mesmo assim, D. Vilma, a viúva, e seus cinco filhos fizeram questão de não medir esforços para dar ao marido e pai um sepultamento digno.  Tomaram dinheiro emprestado e capricharam em tudo, a começar pelo caixão.  Madeira de primeira, uma janela de vidro por onde se via do falecido o rosto e as mãos sobre o peito e tarraxas laterais para fechamento em metal dourado.

Final do velório.  Urna fechada e atarraxada.  D. Vilma, na porta da sala, chamou os filhos e um sobrinho para o adeus final.  Tinho, o sobrinho, era aquele sujeito que costumamos chamar de “espírito de porco”.

Um a um, eles foram se despedindo.  O último foi Tinho.  Olhar atento e bem próximo do vidro iniciou uma oração.  De repente, ele viu Agripino movimentar lentamente a mão direita, desentrelaçando-a da esquerda, e com o dedo indicador esticado, bater duas ou três vezes no vidro.  Assustado, Tinho esfregou os olhos como quem duvidava do que via.  E fazendo leitura labial, compreendeu o que o tio balbuciava:  me ti-ra da-qui...  Eu es-tou vi-vo.  O sobrinho meio ressabiado olhou para um lado, para o outro, mas não deixou ninguém perceber o que acontecia.  Respirou fundo, recompôs o semblante, aproximou-se o mais que pode do vidro e sem emitir nenhum som, caprichou no movimento dos lábios para calmamente dizer ao tio: ti-ro não...  Tia Vil-ma gas-tou o que ti-nha e o que não ti-nha ne-sse ve-ló-rio.  Enquanto se dirigia ao tio, cuidou de apertar ainda mais a tarraxa que estava à altura de sua mão.  E finalizou:  a-go-ra vo-cê es-tá mor-to mes-mo e se-rá en-te-rra-do!

Até hoje há controvérsia.  Uns dizem que Agripino permaneceu vivo por muito tempo e outros juram que ele foi enterrado vivo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A vingança do touro




E por falar em vaca...

O fato aconteceu em 21.05.2010, mas só hoje tomei conhecimento.  Confesso que fiquei contente pelo touro.  Felizmente (ou não), o toureiro sobreviveu e já está de volta à arena.  Uma pena, pois certamente outros touros serão sacrificados por ele.

A boa notícia é que o parlamento da Catalunha, uma região autônoma da Espanha, decidiu sobre a proibição das touradas a partir de 2012.  Tomara que a moda pegue!



Vaca Estrela e o sonho do Zé Cecílio


Por duas vezes, na minha primeira infância, moramos em uma fazenda no interior de São Paulo, mais precisamente em Dourado.  Na segunda delas, início da década de 1960, recebemos a visita do Zé Cecílio, um primo que na época tinha 15 ou 16 anos de idade.
Para as pessoas que vivem na cidade, a vida no campo tem muitos atrativos, mas tem também algumas armadilhas.  E para o Zé, essa armadilha atendia pelo nome de Estrela.  Uma vaca arredia, de comportamento instável, que exigia cuidado constante mesmo das pessoas habituadas com a lida diária.  Sem chance de errar, ela foi responsável pelo maior susto que o Zé já teve na vida.
Em uma daquelas tardes, vaca Estrela foi levada ao curral para que pudesse ser tratada de uma ferida ocasional.  Foi laçada ao tronco – uma tora fincada no centro do curral para facilitar a imobilização de animais bravios.  Do lado de fora, Atílio, meu irmão mais velho, e Zé Cecílio, apoiados sobre as três tábuas da cerca, observavam.  Eu, ainda pequeno, me aboletei no telhado do paiol de onde tinha visão privilegiada.  Do lado de dentro, um vizinho da fazenda e meu pai tentavam dominar a Estrela, cujo laço já dava a volta necessária no tronco.  Bastava agora diminuir a distância para que ela fosse totalmente imobilizada.  Bastava, mas...  Num momento de fúria e usando de toda sua força, Estrela conseguiu se safar.  Meu pai correu para um lado, o amigo para outro e Estrela em direção à cerca onde estavam Atílio e Zé Cecílio, que segurava nas mãos um pedaço de pau.  Uma cabeçada, mais outra, e Estrela, enfurecida, não desistia.  Aos gritos meu pai pedia para que o Zé batesse com o pedaço de pau na cabeça dela.  De nada adiantou.  Lá pela quarta ou quinta tentativa, ela arrebentou a cerca.  Atílio conseguiu se livrar com certa facilidade.  Já o Zé correu para o lado errado e se deparou com outra cerca, esta feita de lascas de macaúba – uma espécie de coqueiro – com aproximadamente 1,5 metro de altura.  Mas não titubeou.  Passou por ela de forma acrobática, sem mesmo tocá-la, sequer com as mãos.  Caiu no terreiro da casa e assustado, subiu a escada que dava acesso à cozinha onde encontrou minha mãe.  Tia, disse ele, me dá um gole de café!
Embora assustador, o episódio foi motivo de muito riso depois.  Mas o melhor ainda estava por vir.
A nossa casa não tinha forro.  As paredes iam até a altura do teto e deixavam um vão entre o topo e o telhado.  Zé Cecílio dormia em um quarto com a cama encostada na parede.  Do outro lado ficava o quarto do Álvaro, o meu outro irmão.  Encostada na parede, uma escrivaninha.
E foi nesse cenário que no meio da madrugada, Álvaro foi acordado por um barulho.  Ao acender a lamparina, deparou-se com o Zé, imóvel e atônito, em pé sobre a escrivaninha.  O que você está fazendo aí, perguntou ele?  E respondeu o Zé: fugindo da vaca Estrela!
Pela manhã ficamos sabendo que Zé Cecílio sonhou com a vaca Estrela, pulou a parede e caiu em pé sobre a escrivaninha do quarto ao lado.

Passados 50 anos, há quem diga que o Zé Cecílio evita olhar para cima em noite de céu estrelado!