quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Poeta e Poema

De
Tanto
Procurar
Pela
Palavra
Perfeita,
Pela
Rima
Bem
Feita,
O
Poema
Se
Perdeu.
Foi
Descendo
Até
Esgotar
A
Pauta.


De
Tanto
Procurar
Pela
Mulher
(Palavra)
Ideal,
Bonita
E
Eclética,
O
Poeta
Se
Esvaiu
No
Vazio
Da
Estética.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O avião, a elite e as classes C e D



Definitivamente, o Brasil ainda é um país para poucos.  Não tem Brasil para todos os brasileiros.  E não há exemplo melhor do que o transporte aéreo para comprovar esta tese.

Durante décadas, viajar de avião era um glamour, um privilégio de uma minoria.  Viagens internacionais então, nem se fala.

Éramos bem tratados, desde o check-in, passando pelas refeições servidas a bordo, com o requinte de talheres em aço inox e até prata.  Mesmo em voos domésticos e de curta duração.

Há dez anos começaram a surgir empresas low cost low fare.  Com elas, a simplificação dos processos e a substituição das refeições mais elaboradas por barrinhas de cereal e pacotinhos de biscoito. Hoje em dia, nem isso.  Já tem empresas cobrando pela bebida e pelo lanche.

Custos menores, tarifas menores.  Com isso, um número maior de pessoas passou a utilizar o transporte aéreo.

No mesmo período o país saiu de quase duas décadas de estagnação e voltou a crescer.  Economia aquecida, aumento de renda, mais brasileiros nas filas de embarque.  O caos tinha data marcada para acontecer.  Afinal, nesses dez anos pouco ou nada foi feito para atender o crescimento da demanda.  Os aeroportos são exatamente os mesmos.

O resultado todos nós conhecemos.  Além dos problemas que já existiam, como a prática do over book, temos aeroportos super lotados, voos cancelados, atrasos, protestos, tripulação exaurida, xingamentos, depredações e maus tratos da parte de atendentes despreparados.

Bom, até aí, não vejo nada de estranho.  Pelo contrário, era previsível e até inevitável.  Impossível resolver simultaneamente todos os problemas do país.  Miséria e fome, infraestrutura, educação, saúde, segurança pública...  Abrindo um parêntese, é louvável que nesses últimos anos tenhamos evitado que milhões de brasileiros morressem de fome.  E embora eu não seja a Madre Tereza de Calcutá, penso nisso quando tenho de embarcar em um terminal lotado.

Mas o que mais me incomoda nessa história toda é ver uma meia dúzia de idiotas esbravejando contra o fato das classes C e D utilizarem o avião como meio de transporte.  Já ouvi coisas tão absurdas que tenho vergonha de escrever aqui.

É bem verdade que falta “bons modos” para essas pessoas que estão chegando agora. Natural, pois em função de terem sido mantidos à margem do "paraíso consumista", não têm hoje a menor familiaridade com o transporte aéreo.  Não sabem como se portar no momento do embarque.  Têm medo do Raio X.  E, pasmem, tem gente que sequer usa o banheiro por não saber abrir a porta.

Teremos de conviver com essa situação por algum tempo ainda.  Felizmente, vejo crianças pequenas nesse meio.  Logo elas crescerão, e diferente de seus pais, saberão muito bem ocupar os seus lugares e apertar os cintos.

E quanto à elite, só lamento.  Mais do que nunca, é preciso que ela também aperte o seu cinto. Mesmo que seja no pescoço.

Quem tiver muito dinheiro, compre um avião.  Quem tiver um pouco menos, alugue um táxi aéreo.  Para os demais, este é o país que temos agora.

domingo, 9 de janeiro de 2011

A vida no ritmo dos passos


Gosto de andar a pé.  Ainda que percorrendo caminhos repetidos, tenho a oportunidade de observar melhor o cotidiano, as pessoas, e até as cores que se alteram conforme a luz do dia.

A rua é a mesma.  As casas e prédios, idem.  Mas a sua dinâmica é diferente a cada nascer do sol.  A rua tem vida própria.

O bar da esquina tem a mesma configuração de sempre, mas quando passo por ele é possível observar algo novo.  Até aquele executivo de terno escuro, que habitualmente toma a sua cerveja, na mesma cadeira da mesma mesa, é diferente.  Observo rapidamente o seu semblante e vejo uma expressão nova a cada vez.  Sei que um dia está mais feliz, outro nem tanto. Por vezes, um ar de preocupação.

A banca de frutas há anos montada sob a marquise do prédio, na mesma esquina, pelo mesmo vendedor.  Nada mudou nesse tempo, sequer o plástico azul que a protege da chuva com vento.  Mas é fácil notar que a banana está mais madura, que uma fruta de época é vendida a preços menores ou em quantidade maior.

A senhora de idade já avançada, pequena, magrinha, lenço na cabeça, olhos pesadamente pintados, e sobrancelhas onde a ausência dos pêlos é compensada por um lápis preto.  Exatamente igual.  Todos os dias.  Mas me desperta reações diferentes.  Teria sido ela uma artista?  Atriz ou cantora?  Por vezes penso que é uma mulher só, sem filhos ou companheiro, alguém que pudesse dizer a ela que não há necessidade de se pintar assim tão exageradamente.  Que a beleza roubada pelo tempo não tira dela o prazer de estar viva, de ter envelhecido.

O vizinho de meia idade que se veste invariavelmente em tons cáqui, bermuda e camiseta, botinhas em couro camurça e uma bolsa a tira-colo.  Vê-lo, é como mirar a mesma foto.  Mas um dia me cumprimenta, outro não.  Um dia me para pra dizer que me convidará para fazer uma palestra no seu curso de História.  No outro passa direto por mim, como se não me conhecesse.

Os meninos e meninas do colégio.  Cresceram.  Viraram adolescentes.  Usam celulares.  Roubam um beijo apoiados no carro estacionado.  Ainda ontem eu os via sendo levados pelas mãos da mãe até o portão de entrada.  Hoje passaram do banco de trás para o da frente e descem com seus casacos amarrados na cintura.

A vida pode ser diferente quando observada no ritmo dos passos.  Experimente.  Com um olhar atento você se deliciará com o novo, identificado na aparente mesmice de sempre.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Poesia

Não sou poeta.  Eventualmente escrevo alguns versos.  Faço uso da pouca inspiração como uma forma de conviver com as minhas emoções.  Quase tudo que escrevi e escrevo, advém das grandes paixões.

Poesia não se explica.  Quem a escreve sabe de seus motivos.  Quem a lê, se fonte não for de tal inspiração, pode e deve admirá-la.  Se não pelo conteúdo, ainda sobram beleza e estética.

Encontros matinais

Há dias
Tardes e noites se repetem
Monótonas, paraíso sem maçãs

Há dias
Tardes e noites
Me remetem
Ansioso, ao encontro das manhãs

Para Anna Christina, a quem eu via apenas pela manhã.



Desce, irmão!

Quem nasceu e viveu no interior, especialmente os mais antigos, conhece bem aquelas crenças populares, do tipo: não imite um gago porque se bater um vento forte você também ficará; não envesgue os olhos, se não, idem;  não tome banho de barriga cheia;  não brinque com espírito e;  por aí vai.  E sobre espírito, tem a famosa frase “Desce, irmão!”.

Morávamos numa chácara no interior de São Paulo, onde tínhamos uma granja.  De um lado os galpões alinhados paralelamente, no centro a nossa casa e do outro lado, à frente dos galpões, uma construção que servia de depósito para ração e ovos. 

Um dos meus irmãos e eu tínhamos o hábito de brincar com uma pequena bola de meia no terreiro à frente do depósito.  Bola de meia, como o nome já diz, é feita com retalhos de tecido embolados e revestidos por um pé de meia.  Por isso mesmo, pesa bem pouco, principalmente aquela nossa, de tamanho bem reduzido.

Lá estávamos nós a brincar.  Fazíamos embaixadas, chutávamos um para o outro e também, de vez em quando, jogávamos a bola sobre o telhado e enquanto esperávamos pelo seu retorno gritávamos: desce, irmão!  Obviamente, ela sempre descia.

Mas naquela tarde, algo diferente aconteceu.  Alguém havia colocado uma barra de cano de metal, com 5 ou 6 metros de comprimento.  Pesava um bocado.  Ela estava em pé e apoiada sobre a primeira fileira de telhas. E eu, todo faceiro, de cima dos meus 7 anos de idade, joguei a bola sobre o telhado e me pus bem próximo a esperar pela sua volta.

Desce, irmão, gritei!  E desceu.  Desceu, bateu no cano e o cano também desceu...  Bem no meio da minha cabeça!  Tudo muito rápido!

Assustado e com dor, demorei alguns segundos para perceber o que havia ocorrido.  Dá para imaginar que uma bolinha de meia muito leve, um pouco maior do que uma laranja, derrubaria uma barra de cano muito pesada?  Terá sido a mão de um “irmão” já aborrecido com a brincadeira?  (rsrs)

O fato é que de lá pra cá, só pronuncio “Desce, irmão” quando um dos meus está numa escada, numa cadeira ou coisa parecida.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Enquanto isso, no congresso brasileiro



É, tem jeito mesmo não.  Primeiro, aquele aumentozinho básico de 62%, com efeito cascata para todo mundo.  Todo mundo da corte, claro.

Mas, como o episódio do aumento passou batido, resolveram dar prosseguimento à farra.  Explico.  Com a posse dos eleitos para cargos majoritários (presidente e governadores), novos ministros e secretários de estados foram nomeados.  Para ficar apenas no senado, há casos de senadores que não foram reeleitos e que foram nomeados para o cargo de ministro.  Como a posse dos novos senadores acontecerá apenas no dia 1º de fevereiro, a legislação permite que o suplente assuma em seu lugar.  Por 20 e poucos dias.  Normal, dizem eles.

Assim, esses caras de pau terão direito a tudo que um senador eleito tem.  Salário corrigido, todas as verbas acessórias e até a nomeação de novos funcionários para o gabinete.  Ou seja, nós, pobres cidadãos contribuintes, teremos de arcar com mais esse custo.

Vá lá que a atual legislação permita.  Mas cá entre nós, é muito cinismo, não?  Enquanto se debate o novo salário mínimo – para ficar apenas nisso – o Ministro Mantega diz que se o congresso determinar um valor maior do que os R$ 540,00 propostos, a Presidente Dilma vetará. Ninguém bota a mão na consciência!  Para algumas medidas, há dinheiro.  Para outras, nem pensar.

E assim vai.  Será mesmo que todo povo tem o governo que merece?  Leia-se governo toda a estrutura de poder.  Estou começando a acreditar nisso.  Até porque, decorridos quase 30 dias do famigerado aumento, pouco ou nada se viu em termos de reação popular.  E se não fizermos nada, tudo continuará como antes.  Antes e sempre!

Sai presidente, entra presidente, e todos prometem uma reforma política (entre outras).  Mas ninguém consegue fazer.  Reclamamos muitos deles por isso, desde os tempos de Sarney.  Na verdade, o problema é mais embaixo.  Ou mais ao lado, em se tratando de Palácio do Planando e Congresso.

Escrito por alguém que insiste em permanecer brasileiro.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tinho e o enterro de um morto vivo

Muito já se ouviu sobre lendas tenebrosas a respeito de pessoas que teriam sido dadas como mortas e enterradas vivas durante um surto de catalepsia.  Especialistas, no entanto, garantem que isso é altamente improvável.  Se algo parecido ocorreu, de fato, só pode ter sido em um passado muito remoto.

Um desses episódios é contado e recontado em uma cidade do interior de Minas Gerais.  E por ser muito engraçado, resolvi compartilhar aqui.  Por respeito às pessoas - afinal, deve ser apenas uma lenda mesmo - os nomes são fictícios e a cidade é omitida.

Agripino, um cataléptico cinquentão, participava de uma partida de futebol entre amigos quando subitamente caiu paralisado.  Imediatamente, todos correram para socorrê-lo.  Um médico que estava no local logo se apresentou para examiná-lo.  Diagnóstico: estava morto.

A família, embora com alguma posse, passava por uma situação financeira difícil.  Mesmo assim, D. Vilma, a viúva, e seus cinco filhos fizeram questão de não medir esforços para dar ao marido e pai um sepultamento digno.  Tomaram dinheiro emprestado e capricharam em tudo, a começar pelo caixão.  Madeira de primeira, uma janela de vidro por onde se via do falecido o rosto e as mãos sobre o peito e tarraxas laterais para fechamento em metal dourado.

Final do velório.  Urna fechada e atarraxada.  D. Vilma, na porta da sala, chamou os filhos e um sobrinho para o adeus final.  Tinho, o sobrinho, era aquele sujeito que costumamos chamar de “espírito de porco”.

Um a um, eles foram se despedindo.  O último foi Tinho.  Olhar atento e bem próximo do vidro iniciou uma oração.  De repente, ele viu Agripino movimentar lentamente a mão direita, desentrelaçando-a da esquerda, e com o dedo indicador esticado, bater duas ou três vezes no vidro.  Assustado, Tinho esfregou os olhos como quem duvidava do que via.  E fazendo leitura labial, compreendeu o que o tio balbuciava:  me ti-ra da-qui...  Eu es-tou vi-vo.  O sobrinho meio ressabiado olhou para um lado, para o outro, mas não deixou ninguém perceber o que acontecia.  Respirou fundo, recompôs o semblante, aproximou-se o mais que pode do vidro e sem emitir nenhum som, caprichou no movimento dos lábios para calmamente dizer ao tio: ti-ro não...  Tia Vil-ma gas-tou o que ti-nha e o que não ti-nha ne-sse ve-ló-rio.  Enquanto se dirigia ao tio, cuidou de apertar ainda mais a tarraxa que estava à altura de sua mão.  E finalizou:  a-go-ra vo-cê es-tá mor-to mes-mo e se-rá en-te-rra-do!

Até hoje há controvérsia.  Uns dizem que Agripino permaneceu vivo por muito tempo e outros juram que ele foi enterrado vivo.