Dia desses, conversando com o meu pai, o assunto “sexo” entrou na roda.
Disse-me que no seu tempo (ele tem hoje 60 anos) transar entre amigos (ou sexo
casual) passou a ser algo comum. Vale ressaltar que a sua memória remonta aos
anos 1970 e tinha como ambiente o meio universitário.
Bem sabemos que até então havia uma repressão muito forte aos costumes.
A regra para as mulheres era esperar o casamento para iniciar a vida sexual. Já
os homens, quase que sem exceção, davam os primeiros passos nessa direção valendo-se
das famosas “zonas” e suas mulheres de “vida fácil”.
A década ficou marcada pela “revolta dos sutiãs”, com movimentos
feministas eclodindo mundo afora. Entre nós, não podia ser diferente, as
primeiras marolas foram bater no meio universitário. O que até então era
guardado no íntimo de cada pessoa passou a ser discutido, questionado e
barreiras começaram a ruir.
Foi nesse clima que fazer sexo com amigo (a) ganhou ares de normalidade.
Afinal, para que exigir laços sentimentais? Bobagem, bradava-se. E não precisou
mais do que uma década para que tal pensamento ultrapassasse os muros das
universidades.
Para papai, que vivenciou esse processo, algo se perdeu pelo caminho.
Com um olhar no passado, devo concordar. No afã de se romper com um modelo rígido
e machista, caminhou-se de um extremo ao outro.
Permitam-me um parêntese. A meninada de hoje não tem a exata noção do
quão difícil era o tema “sexo” naquele tempo, bem como as consequências
decorrentes de sua prática. Especialmente para as mulheres. Aquelas que se
arvoravam e decidiam abrir mão da virgindade antes do casamento acabavam
enfrentando toda sorte de preconceito, tanto dentro como fora do âmbito
familiar. Não raro jovens mulheres eram colocadas para fora de casa apenas por
isso - sem falar de gravidez acidental. Entre os homens, machistas em sua
grande maioria, casar com uma companheira que tivesse iniciado a vida sexual
antes, era uma vergonha. Impensável.
Algo precisava ser feito. E foi. Porém, percebe-se que o ponto de
equilíbrio ficou mesmo para o futuro. Não era motivo de preocupação. O
importante era soltar as amarras, desprender-se, libertar-se.
40 anos passados, duas gerações depois, vivemos hoje numa sociedade sem
limites quando o tema é a prática sexual. A galera, cada vez mais cedo, e mesmo
sem o conhecimento e maturidade necessária, começa a frequentar essa praia.
Fontes de informação não faltam. O problema é que são em número ainda maior as
fontes de estímulo ao erotismo.
Papai não sabe dizer se isso é melhor ou pior. Sabe apenas que é
diferente. Tem consciência de que não dava pra viver sob a mordaça da
hipocrisia, da repressão comportamental. Mas afirma - com autoridade de quem
viveu naquela época - que é preciso se buscar, mais do que nunca, o meio termo.
O meio do caminho, o tal do ponto de equilíbrio. Permitir-se, usufruir do que é
bom e natural, mas ter sempre à vista um “manual de bons costumes” e muito, mas
muito critério.
Pensei muito sobre isso. Pense você também. Logo teremos os nossos
filhos. E com eles, o duro papel de educador. E se a nossa geração ainda não
encontrou o ponto de equilíbrio, será dos nossos filhos essa importante missão.
Texto: Anna Hill, 20 anos.