Quem nasceu e viveu no interior, especialmente os mais antigos, conhece bem aquelas crenças populares, do tipo: não imite um gago porque se bater um vento forte você também ficará; não envesgue os olhos, se não, idem; não tome banho de barriga cheia; não brinque com espírito e; por aí vai. E sobre espírito, tem a famosa frase “Desce, irmão!”.
Morávamos numa chácara no interior de São Paulo, onde tínhamos uma granja. De um lado os galpões alinhados paralelamente, no centro a nossa casa e do outro lado, à frente dos galpões, uma construção que servia de depósito para ração e ovos.
Um dos meus irmãos e eu tínhamos o hábito de brincar com uma pequena bola de meia no terreiro à frente do depósito. Bola de meia, como o nome já diz, é feita com retalhos de tecido embolados e revestidos por um pé de meia. Por isso mesmo, pesa bem pouco, principalmente aquela nossa, de tamanho bem reduzido.
Lá estávamos nós a brincar. Fazíamos embaixadas, chutávamos um para o outro e também, de vez em quando, jogávamos a bola sobre o telhado e enquanto esperávamos pelo seu retorno gritávamos: desce, irmão! Obviamente, ela sempre descia.
Mas naquela tarde, algo diferente aconteceu. Alguém havia colocado uma barra de cano de metal, com 5 ou 6 metros de comprimento. Pesava um bocado. Ela estava em pé e apoiada sobre a primeira fileira de telhas. E eu, todo faceiro, de cima dos meus 7 anos de idade, joguei a bola sobre o telhado e me pus bem próximo a esperar pela sua volta.
Desce, irmão, gritei! E desceu. Desceu, bateu no cano e o cano também desceu... Bem no meio da minha cabeça! Tudo muito rápido!
Assustado e com dor, demorei alguns segundos para perceber o que havia ocorrido. Dá para imaginar que uma bolinha de meia muito leve, um pouco maior do que uma laranja, derrubaria uma barra de cano muito pesada? Terá sido a mão de um “irmão” já aborrecido com a brincadeira? (rsrs)
O fato é que de lá pra cá, só pronuncio “Desce, irmão” quando um dos meus está numa escada, numa cadeira ou coisa parecida.
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