Muito já se ouviu sobre lendas tenebrosas a respeito de pessoas que teriam sido dadas como mortas e enterradas vivas durante um surto de catalepsia. Especialistas, no entanto, garantem que isso é altamente improvável. Se algo parecido ocorreu, de fato, só pode ter sido em um passado muito remoto.
Um desses episódios é contado e recontado em uma cidade do interior de Minas Gerais. E por ser muito engraçado, resolvi compartilhar aqui. Por respeito às pessoas - afinal, deve ser apenas uma lenda mesmo - os nomes são fictícios e a cidade é omitida.
Agripino, um cataléptico cinquentão, participava de uma partida de futebol entre amigos quando subitamente caiu paralisado. Imediatamente, todos correram para socorrê-lo. Um médico que estava no local logo se apresentou para examiná-lo. Diagnóstico: estava morto.
A família, embora com alguma posse, passava por uma situação financeira difícil. Mesmo assim, D. Vilma, a viúva, e seus cinco filhos fizeram questão de não medir esforços para dar ao marido e pai um sepultamento digno. Tomaram dinheiro emprestado e capricharam em tudo, a começar pelo caixão. Madeira de primeira, uma janela de vidro por onde se via do falecido o rosto e as mãos sobre o peito e tarraxas laterais para fechamento em metal dourado.
Final do velório. Urna fechada e atarraxada. D. Vilma, na porta da sala, chamou os filhos e um sobrinho para o adeus final. Tinho, o sobrinho, era aquele sujeito que costumamos chamar de “espírito de porco”.
Um a um, eles foram se despedindo. O último foi Tinho. Olhar atento e bem próximo do vidro iniciou uma oração. De repente, ele viu Agripino movimentar lentamente a mão direita, desentrelaçando-a da esquerda, e com o dedo indicador esticado, bater duas ou três vezes no vidro. Assustado, Tinho esfregou os olhos como quem duvidava do que via. E fazendo leitura labial, compreendeu o que o tio balbuciava: me ti-ra da-qui... Eu es-tou vi-vo. O sobrinho meio ressabiado olhou para um lado, para o outro, mas não deixou ninguém perceber o que acontecia. Respirou fundo, recompôs o semblante, aproximou-se o mais que pode do vidro e sem emitir nenhum som, caprichou no movimento dos lábios para calmamente dizer ao tio: ti-ro não... Tia Vil-ma gas-tou o que ti-nha e o que não ti-nha ne-sse ve-ló-rio. Enquanto se dirigia ao tio, cuidou de apertar ainda mais a tarraxa que estava à altura de sua mão. E finalizou: a-go-ra vo-cê es-tá mor-to mes-mo e se-rá en-te-rra-do!
Até hoje há controvérsia. Uns dizem que Agripino permaneceu vivo por muito tempo e outros juram que ele foi enterrado vivo.
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