Nesses últimos dias tenho utilizado boa parte do meu tempo para assistir algumas gravações de delações premiadas dos executivos da Odebrecht. Confesso que a
primeira motivação foi mesmo conhecer fatos pontuais. No entanto logo me dei
conta de que havia um universo bem mais amplo a ser assimilado.
É lamentável que olhemos para a Lava Jato apenas como uma operação
policial destinada a prender uns poucos entre tantos corruptos e corruptores e salvar o
Brasil de todo o mal, como nos fazem crer a PF, o MPF e os juízes nela
envolvidos.
Ludibriada pela grande mídia parceira que só edita e publica aquilo que
lhe interessa, a maioria da população brasileira é iludida com o varejo da
operação e desestimulada para um olhar voltado ao atacado.
Por óbvio, não interessa às elites que sempre se locupletaram, nenhuma
alteração desse status.
Estamos perdendo uma grande oportunidade.
Cabe às lideranças progressistas que por aqui ainda restam se empenharem
em compreender e interpretar a estrutura política que nos dá abrigo. Lideranças de todos os segmentos. Políticos, acadêmicos, juristas, empresários, pessoas dos movimentos sociais, formadores de opinião, para que possamos redesenhar esse desde sempre ultrapassado modelo.
As delações, para o bem ou para o mal, estão feitas. E nos relatos, para
muito além de fatos pontuais - quanto, como e para quem foi dado - se vê
claramente como funciona a nossa estrutura política, como os interesses
privados se misturam e se unem para se servirem dos benefícios públicos. Não se
trata apenas de ajudar uma campanha política.
Entre tantas consequências priorizo a mais "sagrada e imediata" delas:
perpetuar uma distribuição de renda às avessas.
A hora é essa. Se não revisarmos esse modelo agora acabaremos
exatamente como tanto cita e quer o Juiz Moro: uma operação “Mani pulite” tupiniquim.
Não dará em nada!
Novos Berlusconis já se arvoram por aqui.
A
propósito do tema, deixo um link que serve como exemplo: