Definitivamente, o Brasil
ainda é um país para poucos. Não tem
Brasil para todos os brasileiros. E não
há exemplo melhor do que o transporte aéreo para comprovar esta tese.
Durante décadas, viajar
de avião era um glamour, um privilégio de uma minoria. Viagens internacionais então, nem se fala.
Éramos bem tratados,
desde o check-in, passando pelas refeições servidas a bordo, com o requinte de
talheres em aço inox e até prata. Mesmo
em voos domésticos e de curta duração.
Há dez anos começaram a
surgir empresas low cost low fare. Com
elas, a simplificação dos processos e a substituição das refeições mais
elaboradas por barrinhas de cereal e pacotinhos de biscoito. Hoje em dia, nem
isso. Já tem empresas cobrando pela
bebida e pelo lanche.
Custos menores, tarifas
menores. Com isso, um número maior de
pessoas passou a utilizar o transporte aéreo.
No mesmo período o país saiu de quase duas décadas de estagnação e voltou a crescer. Economia aquecida, aumento de renda, mais brasileiros nas filas de embarque. O caos tinha data marcada para acontecer. Afinal, nesses dez anos pouco ou nada foi feito para atender o crescimento da demanda. Os aeroportos são exatamente os mesmos.
O resultado todos nós
conhecemos. Além dos problemas que já
existiam, como a prática do over book, temos aeroportos super lotados, voos
cancelados, atrasos, protestos, tripulação exaurida, xingamentos, depredações e
maus tratos da parte de atendentes despreparados.
Bom, até aí, não vejo
nada de estranho. Pelo contrário, era
previsível e até inevitável. Impossível
resolver simultaneamente todos os problemas do país. Miséria e fome, infraestrutura, educação,
saúde, segurança pública... Abrindo um
parêntese, é louvável que nesses últimos anos tenhamos evitado que milhões de
brasileiros morressem de fome. E embora
eu não seja a Madre Tereza de Calcutá, penso nisso quando tenho de embarcar em
um terminal lotado.
Mas o que mais me
incomoda nessa história toda é ver uma meia dúzia de idiotas esbravejando
contra o fato das classes C e D utilizarem o avião como meio de
transporte. Já ouvi coisas tão absurdas
que tenho vergonha de escrever aqui.
É bem verdade que falta
“bons modos” para essas pessoas que estão chegando agora. Natural, pois em
função de terem sido mantidos à margem do "paraíso consumista", não
têm hoje a menor familiaridade com o transporte aéreo. Não sabem como se portar no momento do
embarque. Têm medo do Raio X. E, pasmem, tem gente que sequer usa o
banheiro por não saber abrir a porta.
Teremos de conviver com
essa situação por algum tempo ainda.
Felizmente, vejo crianças pequenas nesse meio. Logo elas crescerão, e diferente de seus
pais, saberão muito bem ocupar os seus lugares e apertar os cintos.
E quanto à elite, só
lamento. Mais do que nunca, é preciso
que ela também aperte o seu cinto. Mesmo que seja no pescoço.
Quem tiver muito
dinheiro, compre um avião. Quem tiver um
pouco menos, alugue um táxi aéreo. Para
os demais, este é o país que temos agora.
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