De acordo com o IBGE, a população brasileira tem 50,7% de
negros e pardos. Ainda segundo o
instituto, de 2003 a 2013, a renda da população negra e parda cresceu 51,4%.
Não obstante, ela é hoje 57,4% da renda média da população branca. Metade, praticamente. Ou seja, negros e pardos ocupam maciçamente a ala pobre do país.
Há dados interessantes também quando o assunto é acesso à
educação e à cultura. E para quem quiser se aprofundar um pouco mais, números sobre
mortes por assassinatos, por faixa etária, renda e cor da pele.
Em política, especialmente a
brasileira, não me apraz nominar “direita” e “esquerda”. Ainda penso que
nos falta ideologia. Um sinal disso é que somos representados por mais de
30 partidos, criados na quase totalidade para atender pequenos guetos,
apoderamento de verbas públicas a eles destinadas, e interesse em cargos
políticos em todos os níveis de governo.
Também tão pouco me agrada essa ideia da divisão entre
pobres e ricos quando o assunto é política. Embora óbvio seja que os interesses prementes
de uns, pouco ou quase nada têm a ver com os de outros.
Quanto à cor da pele, o preconceito por
tantos e tantas vezes declarado e estimulado é, de longe, o mais rasteiro
sentimento humano. Aliás, não apenas o preconceito sobre raças e etnias. Seja
lá de que tipo for, acho abominável.
Não escolhemos a primeira
morada. A nossa gestação se dá sem que sobre ela possamos exercer algum
controle. E a partir dela, geneticamente falando, somos o que somos. Pretos ou
brancos, amarelos ou misturados, héteros ou homossexuais, fisicamente perfeitos
ou não.
Socialmente falando, as transformações são
possíveis. Não importa se coletivamente ou individualmente. O que Importa são as
oportunidades proporcionadas ao indivíduo ou população. Portanto, dependentes
do berço, do esforço individual e das políticas governamentais. Nesse processo
só não cabe defender a famosa meritocracia como tal propalada comicamente,
herança (quase genética), quando, certamente, sabemos tratar-se da realidade
financeira de cada berço.
Direita ou esquerda, negro ou branco, pobre ou rico. Esses carimbos, por
vezes, acabam patrocinando uma discussão que beira ao surrealismo. Como se
possível fosse reduzir tanto assim a grandiosidade da vida humana, e a partir
daí determinar o que merece um branco, um negro, um amarelo, um pobre ou um
rico.
Ao longo da minha vida muitas vezes tenho sido identificado
como alguém de esquerda. Pode ser. Porém,
por consciência, jamais defenderia a esquerda pela esquerda, simplesmente. Como
também não me abstenho de criticar as falhas cometidas por governantes de
esquerda. De tal forma, considero razoável que semelhante postura valha para as
pessoas de direita.
Defendo
sim, e sempre, o ser humano, povo, gente. Por consequência, defendo a
participação popular. Mais, diria. A participação é um dever de cidadania. E
entenda-se como participação não apenas o ato de comparecer a um manifesto
qualquer. É no sentido amplo. Nas discussões de agendas públicas e políticas, de
ações governamentais, de direitos e deveres constitucionais, e por aí vai. Abordando
questões municipais, estaduais ou federais. Vestidos de verde e amarelo, de
vermelho, de preto. Caras pintadas ou não. Convocados por uma central sindical,
por uma emissora de televisão com concessão pública ou por grupos atuantes nas
redes sociais. E sempre com espírito público, com civilidade e respeito e, se
possível for, com bandeiras que promovam o bem coletivo.
Parece
simples, não?
Parece, mas não é. Ou é, mas não parece.
Parece, mas não é. Ou é, mas não parece.
Hoje, passadas as duas manifestações recentes (15 de março e 12 de
abril), durante algumas horas eu me pus a pesquisar um vasto material fotográfico
disponibilizado na mídia.
A intenção de quem delas participou é a mesma. Embora a
segunda tenha levado um público menor às ruas, teve o mérito de se espalhar por
mais cidades e regiões.
O objetivo da pesquisa foi apenas a curiosidade de identificar a cor da
pele dos manifestantes presentes. Para a minha (não) surpresa, até em cidades
como Salvador, onde a população negra ou parda supera as estatísticas do IBGE,
a esmagadora maioria é branca. Há de se prestar muita atenção para encontrar
alguém diferente disso.
Tão pouco me surpreenderia se alguma pesquisa apontasse
também que a mesma maioria esmagadora está fora daquilo que poderíamos classificar
como população pobre.
Eu deveria dizer que não aprovo a pecha de "elite branquinha". Que discordo frontalmente. Se alguém afirmar que tais manifestações são patrocinadas por ela, cometerá um grave erro na medida em que isenta ou exclui vários outros grupos de interesse. Saudosos dos militares, militares saudosos da ditadura, maçons, TFP, nazistas e fascistas (não pela opção e sim pelo comportamento muitas vezes violento) políticos oportunistas, orgulhosos empresários, e até pequenos grupos de pessoas correndo atrás dos seus cinco minutos de fama (com ou sem nudismo).
Bem, diria você:
- Mas porque aqui nestas
nossas bandas tropicais tupiniquins, raramente vemos negros (ou pobres, em
alguns casos), participantes dos citados grupos de interesse?
Bem...
E o que isso tudo significa?
PS.: Manifesto aqui a minha discordância em relação ao Partido dos Trabalhadores e seus representantes quando usam o termo "elite branquinha" para minimizar a importância das manifestações. Um eleitor pode até fazê-lo, mas o partido e seus políticos eleitos não.
PS.: Manifesto aqui a minha discordância em relação ao Partido dos Trabalhadores e seus representantes quando usam o termo "elite branquinha" para minimizar a importância das manifestações. Um eleitor pode até fazê-lo, mas o partido e seus políticos eleitos não.
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