Por sexagenário, acompanho e participo das discussões
políticas há muitos anos. Mesmo subtraindo o período da ditadura, é tempo
demais. Desde UDN e PSD, eu era um quase adolescente que presenciava calorosos embates
no seio familiar.
Vieram os militares e a minha geração foi privada de uma
vida política mais atuante. O tempo passou e dentro da universidade, na década
de 1970, pude retomar esse caminho.
A luta era incansável e desigual. O
exército nas ruas. Mortos e desaparecidos. Perseguições. Tortura.
No final daquela década eclodiram as greves puxadas pelo ABC
paulista. Surgiu o Partido dos Trabalhadores. Pressionados, os militares começavam a emitir
sinais de transição. Veio o “Diretas já”. Tancredo foi eleito pelo voto
indireto e a sua morte empossou Sarney. Depois tivemos o Collor, o impeachment,
Itamar, FHC, Lula e Dilma.
Estamos ainda aprendendo sobre democracia. Aprendendo a
fazer e a viver sob democracia. O processo é mesmo longo e árduo.
Quem não viveu sob o regime militar não consegue dimensionar o
grau de dificuldade que se enfrentou. E se hoje temos total liberdade para
expor nossas opiniões e fazer nossas escolhas, é porque existiram pessoas
engajadas, com suas ideias e seus ideais. Com seus erros e seus acertos.
Mas ando meio triste nos últimos dias.
E a tristeza existe não por viver em uma democracia que
apenas engatinha ou por ser obrigado a votar em uma eleição. A tristeza existe
por ver pessoas, algumas com as quais convivi, e até alguns amigos com quem me apraz discutir caminhos e rever conceitos, embarcarem em um trem desgovernado,
carregado de ódio, de palavras chulas, agressões e ofensas de toda sorte para
simplesmente justificarem as suas preferências político-partidárias. Para
defender ou atacar um ou outro candidato, este ou aquele partido.
Somos todos sobreviventes de uma ditadura. Algumas mais,
outras menos, outras não, mas como disse, pessoas lutaram para que chegássemos aqui. E por
incrível que pareça, mesmo naquelas batalhas mais cruéis onde a palavra era
bloqueada por fuzis e cassetetes, percebia-se algum respeito.
Os tempos são outros. A comunicação é outra, instantânea. As
redes sociais e a aparente sensação de anonimato. As relações muito mais virtuais
do que reais. A falta de contato físico, do abraço, do gesto, do olhar. Acrescente-se
a isso tudo um batalhão cada vez maior e melhor remunerado de comunicadores
raivosos a serviço de uns ou de outros, entronados em suas revistas, seus
jornais, seus blogs, suas rádios, suas TVs, e suas igrejas, que a nada mais se prestam senão
propagar e incentivar o ódio, a discriminação e até a justiça com as próprias
mãos.
Precisamos repensar esse comportamento. Revisar padrões, rever modelos, resgatar o respeito e os bons modos. Todos nós. Eleitor, político, candidato, partido e mídia. Executivo, legislativo e judiciário.
A própria política não abriga inimigos e sim, adversários. É essa a sua arte.
Pensar política como "arte" é para poucos. Dos mais jovens ainda se releva uma vez que nao vivenciaram o mesmo que nós " sexagenários. Dos amigos contemporâneos .....ah isso não tem desculpas. Afastei-me dos que pensava ter mentes abertas; assim me aborreço menos.
ResponderExcluirParabéns pelo blog.
Obrigado pelo elogio. Quanto à política, é fundamental que ainda tenhamos paciência em discuti-la. Em toda a sua amplitude. Só assim contribuiremos para o avanço que tanto buscamos. Abraço
ExcluirFrustrado com os resultados das urnas??????? Ao que tudo indica, as redes sociais irão definir o destino do país. Pena que o nível de informaçao da maioria seja da "profundidade de um pires". Solidária na frustraçao.
ResponderExcluirClaro que não me frustrei. Apenas lamentei a necessidade do segundo turno.
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